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ESTADO ESPANHOL | O ’sim’ à república catalã ganha em votos e cadeiras nas eleições

Apesar do golpe institucional e da escalada repressiva, o independentismo ganha as eleições do 21D. Cidadãos consegue ser a força mais votada a custa do afundamento do PP. Os “comuns” e a CUP perdem cadeiras, o que reabre o debate de qual esquerda necessitamos para enfrentar a ofensiva reacionária e defender o resultado do 1-O.

Santiago Lupe@SantiagoLupeBCN

sexta-feira 22 de dezembro de 2017 | Edição do dia

Com 84,2% dos votos apurados, todos os meios de comunicação apontam a vitória de Cidadãos como primeira força, com 36 deputados e a manutenção da maioria absoluta do independentismo no Parlament, somando 70. Um paradoxo que se explica pelo fenômeno de concentração de voto produzido no bloco do 155, provocou a ruína do PP a uma posição quase extra-parlamentária de 4 deputados e a manutenção do resultado historicamente anêmico do PSC de 2015, com 17 cadeiras.

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No bloco soberanista o voto ficou repartido entre as duas principais candidaturas, ERC e JxC, que juntas melhoraram conseguindo 4 deputados, até os 66, resultado de Junts pel Sí em 2015. A CUP perdeu 6 deputados, retrocedendo a 4 e Catalunha em Comum-Podem, baixou dos 11 de 2015 a 8. Quais primeiras conclusões podem ser feitas desses resultados?

155: um golpe institucional que não conquista o objetivo de esmagar o independentismo

Apesar das celebrações do Cs, o objetivo máximo do bloco monárquico não foi alcançado. Nem cessando o Govern, nem dissolvendo o Parlament, nem intervindo na autonomia, nem prendendo a conselheiros ou dirigentes da ANC e Ómnium, nem se queixando contra os 800 cargos públicos e ativistas, nem com uma Junta Eleitoral que violou sistematicamente direitos de liberdade de expressão e informação, que impediu que os candidatos presos ou em exílio pudessem participar... com nada disso conseguiu infundir o medo entre os milhões de catalães que aspiram à constituição de uma república que rompa com a Coroa e o Regime de 1978.

O golpe persiste em impor, por meio da escalada repressiva que leva adiante a Promotoria, o Tribunal Supremo, o Constitucional e as forças policiais, uma renúncia dos dirigentes da ERC e do PDeCAT a esse projeto – os quais já deram mostras de sua disposição a “retomar à normalidade” e que não conseguiram convencer com seus métodos inquisitoriais aos milhões que hoje voltaram a dar a vitória ao bloco independentista.

Se revalida o resultado do 1-O em favor da república catalã

De fato, em porcentagem de voto, houve um ligeiro incremento de votos. 47,5% das e dos catalães votaram em formações independentistas, quase idêntico ao resultado de 2015 (47,74%), e com uma participação histórica acima dos 80% (frente ao 77,44% das anteriores). Frente a esse bloco, os votantes do bloco do 155 somam 43,5%, conseguindo uma melhora desde o 39,17% de 2015. O espaço dos “comuns” leva os 7,3% restantes, que não pode se incluir nem em um sim, nem um não. Com o qual a vontade majoritária do povo catalão que ficou expressada no referendum do 1-O e nas jornadas da greve do 3-O e 8N, ficou claramente revalidada.

Em direção ao adiantamento da direita espanholista?

Um dos elementos que pode ter maior alcance no mapa político estatal é o afundamento do PP e o avanço do Cs, que consolida sua imagem de uma nova direita, com um discurso mais demagógico no social e em sua pose de denúncia à corrupção. Na Catalunha o partido de Inés Arrimadas soube se mostrar como a melhor aposta para combater o independentismo, reclamando o artigo 155 desde muito antes de sua aplicação ou se pronunciando abertamente contra a imersão linguística. O PP tratou de resistir a esse avanço, radicalizando cada vez mais seu discurso; a seu espírito lepenizador contra os imigrantes, Albiol somou o querer se apresentar como o artífice da prisão e exílio do Govern.

Essa disputa interna dentro da ala a direita do bloco monárquico está por ser avaliada para ver quais consequências terá no próprio PP a nível estatal e na estabilidade do governo Rajoy. Mas o que é seguro é que supõe um verdadeiro estimulador do giro à direita do Regime de ’78 promovido desde Moncloa com o apoio de Zarzuela. Rajoy, para não seguir perdendo terreno, apostará por manter a todo gás a escalada repressiva e a imposição de uma recentralização do Estado por meio de juízes, fiscais e policiais.

O retrocesso dos “comuns” e da CUP, e o desafio de construir uma esquerda que lute por um programa anticapitalista e uma república dos trabalhadores
A candidatura do CECP, encabeçada por Xavier Doménech, foi outra das perdedoras da noite, ficando com 2 pontos e 3 deputados a menos que em 2015. A equidistância dos “comuns” em relação ao artigo 155 e a DUI, e seu discurso chamando a “virar a página” e subordinar o objetivo da república e o processo constituinte à obtenção da permissão de governo, seus tribunais e da Coroa, mostrou como são uma esquerda domesticada e cada vez mais integrada ao Regime de 1978.

A CUP, por sua parte, caiu de 10 a 4 deputados. Uma queda que não só se explica com o “voto útil” a ERC que se produziu no marco excepcional dos comícios. A política de “mão estendida” e de ter se subordinado à estratégia do “procesisme”, impossibilitou conformar uma alternativa política e de mobilização à direção da ERC e PDeCAT que acabaram claudicando e se negando a defender a república.
Nem a política de auto-reforma pactuada do Regime de 1978, nem a subordinação a Junqueras e Puigdemont, servem para se preparar para enfrentar os perigos dos próximos meses. Por um lado, a possibilidade real de que a direção procesista – que além de tudo sai reforçada das eleições, incluindo Puigdemont e o PDeCAT depois de conjurar o desafio da ERC – termine regressando ao caminho do autonomismo e da negociação com o Estado. Por outro, a necessidade de enfrentar a ofensiva repressiva do Estado central, conseguir a liberdade e desprocessamento dos presos políticos e a combater o projeto de restauração reacionária do Regime de 1978 do bloco monárquico.

Estando contra a uma e outra, é imprescindível e urgente avançar em construir uma esquerda anticapitalista que seja uma alternativa aos partidos que já demonstraram não querer levar a luta pela república até o final, e se proponha conquista-la por meio da mobilização social e unindo essa luta à conquista de um programa para que a crise seja paga pelos capitalistas.

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Foto: Antonio Litov / ID.es




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