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Argentina | O dia 1 da Era Milei: chantagens e mentiras para justificar ajustes e maior inflação

Javier Milei e Victoria Villarruel assumiram o Executivo na Argentina, ao lado de Cristina Kirchner e Alberto Fernandez que prestaram juramento e passaram o cargo. Depois, o presidente eleito deu um discurso na Plaza de los Congressos, onde houve uma audiência menor do que a esperada pelo La Libertad Avanza. Um discurso previsível: disse que precisa fazer um ajuste brutal ou virá o caos, devido à herança recebida. Uma cerimônia recheada de mentiras e chantagens a favor do poder econômico. A esquerda denunciou o ajuste que está por vir e reforçou a necessidade de se organizar para enfrentá-lo.

Fernando ScolnikBuenos Aires | @FernandoScolnik

domingo 10 de dezembro de 2023 | Edição do dia

Esse domingo Javier Milei e Victoria Villarruel assumiram os cargos de presidente e vice, respectivamente. Na Assembleia Legislativa, Cristina Kirchner e Alberto Fernandez prestaram juramento e passaram o cargo. A cena contrastou com a de 2015, quando a agora ex-vice-presidenta não fez o mesmo na posse de Mauricio Macri.

Dentre os convidados para a posse se destacaram os líderes de direita mundial como Jair Bolsonaro, Giorgia Meloni, Emmanuel Macron e Dina Boluarte, entre outros políticos. O breve ato formal se deu entre cantos de “Liberdade” e gritos nos palcos contra a esquerda, até mesmo com conteúdo racista, como denunciou Myriam Bergman.

Diferente de tradições anteriores e copiando uma estética e costumes norte-americanos, Javier Milei não fez na Assembleia Legislativa seu primeiro discurso como presidente eleito, o fez do lado de fora, na Plaza de los Dos Congressos, buscando aparecer de frente para “o povo” e não de frente para “a casta” durante toda sua campanha eleitoral. Porém, a debilidade de La Libertad Avanza dentro do Congresso Nacional, onde é minoria, não se compensou pelo público do lado de fora: a manifestação foi menor do que a esperada pelo partido, demonstrando que o novo governo também tem debilidades quanto ao poder de mobilização.

No seu primeiro discurso como presidente eleito, Javier Milei voltou aos eixos que havia insinuado. Fez um grosseiro diagnóstico sobre a herança recebida para elaborar uma chantagem: é preciso aceitar um duríssimo plano de ajuste fiscal ou então virá o caos da superinflação.

A primeira coisa que vem à tona é a mentira eleitoral: se durante a campanha prometeu que o ajuste seria “às castas” e não à população, agora isso mudou para “o Estado” e não o setor privado. Dizendo de outra maneira: sob a mentira de que “não há dinheiro” manterá os fabulosos negócios dos empresários enquanto descarrega um brutal ajuste nas massas. Como denunciou a esquerda antecipadamente, dinheiro há: é embolsado pelos bancos, o FMI, as privatizadas, o agropower, entre outros interesses que Milei não quer mexer.

Milei disse: nos próximos meses piorará a inflação e cairá a atividade econômica. De acordo com seu discurso, é preciso realizar de forma imediata um grande ajuste fiscal e cortar a emissão de moedas. Corrigir os “desequilíbrios econômicos” implicará também em novas desvalorizações e tarifaços (aumento nas contas de serviços como eletricidade e água). Se espera que os anúncios concretos sejam feitos pelo ministro Caputo na segunda-feira às 8h.
O presidente Milei, inclusive, usou uma das frases mais famosas de Margaret Tatcher, uma das figuras mais importantes da história do neoliberalismo, a qual muitas vezes disse admirar: “não há alternativa”. O novo presidente também fez uma leitura da história da Argentina em chave liberal e oligárquica para propor seu modelo liberal.

Em outra passagem de seu discurso, Milei afirmou que “Não vai ser fácil. 100 anos de fracasso não se desfazem em um dia, mas hoje é esse dia; terminamos o caminho da decadência e começamos a transitar pelo caminho da prosperidade” e deixou um recado de ameaça contra os protestos sociais que sem dúvidas crescerão diante dos planos anunciados: “Quem bloqueia as ruas não receberá assistência da sociedade: o que trava não cobra. Os que querem utilizar a violência ou extorsão para obstaculizar a mudança vão encontrar um presidente de convicções inalteráveis. Não vamos claudicar, retroceder nem nos render, e sim avançar nas mudanças que o país necessita”.

Sua mensagem foi previsível. Sua chantagem também. Seus planos, no entanto, terão que atravessa a prova da realidade de um Governo que verbalmente diz ter muita decisão, porém está atravessado por incógnitas no Congresso Nacional e na realidade da grande massa que vem sofrendo anos de ajuste.

A tarefa de agora é denunciar a chantagem de Milei, suas mentiras de que “não há dinheiro” para dar a batalha contra sua narrativa e começar a se organizar em assembleias para se colocar de pé frente ao que se aproxima, como já estão fazendo milhares de servidores públicos, estatais, trabalhadores da indústria como na Mondelez ou no SUTNA, as mulheres e a diversidade sexual ou o movimento ambientalista. Eles declararam um plano de guerra contra as grandes maiorias. Mas nós, a classe trabalhadora, junto ao movimento de mulheres e a juventude combativa podemos ser uma enorme força social para enfrentá-los.




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