Contrariando qualquer sintoma de bom senso, o vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, atribui aos “desajustes no núcleo familiar” a formação de criminosos.
segunda-feira 17 de setembro de 2018 | Edição do dia
Durante debate no Secovi-SP (Sindicato do Mercado Imobiliário), junto a setores da burguesia rentista do estado, Mourão disse que “sem pai e avô, mas com mãe e avó” famílias são “fábricas de desajustados” que fornecem mão de obra ao tráfico.
É ridículo imaginar que são problemas morais da família que geram a miséria de milhões de brasileiros, dentre eles 25 milhões de desempregados ou em sub-empregos, salários arrochados e serviços públicos decadentes. O tráfico aparece a muito jovens que uma opção de vida menos miserável da que o capitalismo impõe a vida de um trabalhador, em especial aquele que não tem direito a um salário para sobreviver.
A crise capitalista vem gerado uma cada vez mais profunda miséria, mas ela e o desemprego são necessários para que o lucro dos capitalistas seja imparável. Quando o Exército invade o Haiti ou sobe o morro para matar pais, mães e crianças negras, para garantir a ordem no lugar onde as contradições do capitalismo aparecem de forma concentrada e explosiva, Mourão não se preocupa com as famílias. Pelo contrário, defende mais proteção a que as policias e militares saiam impunes pela destruição real de famílias.
Não fosse uma tese completamente determinista, racista, que coloca o homem como pilar moral da família, Mourão justificou a tese correlacionando a que “agentes particulares” tinham como proposta a dissolução da família nuclear, “impor ao conjunto da sociedade” práticas não tradicionais de organização familiar. Ele provavelmente fazia relação as teses contrarias a união homoafetiva. Seguindo a lógica, o general considera esse tipo de união formadora também de desajustados.
O problema do Brasil, portanto, é que o mundo está vivendo “uma crise de costumes”, produto da dissolução da família. Novamente, não tem crise, não existe governo Temer, ajustes que aumentam a exploração do trabalho e dificultam a sobrevivência dos trabalhadores. Seu moralismo determinista cabe muito bem ao seu discurso copiosamente ultraneoliberal, falando em livre mercado, flexibilização trabalhista e cortes na aposentadoria.
Mourão não faz mais que fingir que não existe crise, apontar um problema moral universal, que se choca com avanços democráticos mínimos, como a união homoafetiva, para então legitimar um uso intensivo da repressão do Estado contra os “desajustados”. Promete tecnologia nas fronteiras e maior repressão nos morros, mas para seguir a mesma guerra as drogas que apenas fortalece o tráfico e mata a população negra e pobre, ou mesmo emitir maior controle contra imigrantes, por exemplo os venezuelanos.