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PARAGUAI | Milhares de estudantes se levantam contra a burocracia universitária corrupta na UNA no Paraguai

A mobilização teve início após as denúncias e provas de corrupção e despotismo por parte do Reitor Froilan Peralta, além de seu histórico de perseguição ao movimento estudantil, sob a palavra de ordem #UNAnoTeCalles o movimento exigia a renuncia do Reitor e a reforma do Estatuto da Universidade, herdeiro da Didatura Militar Stronista.

sexta-feira 2 de outubro de 2015 | 00:00

A Universidade Nacional de Assunção, maior e mais antiga universidade estadual do Paraguai com cerca de 60 mil alunos, completa hoje 10 dias com suas atividades paralisadas por uma forte greve de estudantes, que vem sendo chamada de “Primavera Estudantil”.

A mobilização teve início após as denúncias e provas de corrupção e despotismo por parte do Reitor Froilan Peralta, além de seu histórico de perseguição ao movimento estudantil, sob a palavra de ordem #UNAnoTeCalles o movimento exigia a renuncia do Reitor e a reforma do Estatuto da Universidade, herdeiro da Didatura Militar Stronista.

No dia 22 de setembro cerca de 2000 estudantes realizaram um cordão em volta da Reitoria no início de uma reunião do Conselho Superior da Universidade, mantendo cerca de 30 conselhos trancados por mais de 15 horas, exigindo a imediata renúncia do Reitor corrupto, mesmo embaixo de pesado policiamento. Na madrugada do dia 24, foram descobertos funcionários de altos cargos dentro da Reitoria realizando queima de arquivo para eliminar as provas que incriminam o Reitor e grande parte da burocracia universitária da UNA. Novamente as ruas da universidade foram tomadas e a Reitoria cercada pelo forte movimento que já conta com mais de 10 mil estudantes em luta, impedindo a fuga com os documentos.

Não apenas no campus principal da UNA, mas as demais unidades da universidade também estão ocupadas pelos estudantes, que seguem realizando assembleias e massificando o movimento.

No quinto dia o movimento conquistou a renúncia do Reitor, uma vitória que serviu como combustível para fortalecer a mobilização que agora tem como principal demanda a reforma do Estatuto. Após o Reitor Floirán Peralta, renunciaram também o Vice-Retor e os diretores das Faculdades de Economia, Engenharia, Veterinária, Odontologia e Medicina, ligados a corrupção com o dinheiro universitário. Outros diretores devem renunciar nos próximos dias devido à forte pressão do movimento.

Assim como Peralta, todos os diretores que renunciaram são membros do Partido Colorado, nacionalista e conservador, atualmente no governo com o Presidente Horácio Cartes. Hoje o Conselho Nacional de Educação Superior do Paraguai, o CONES, anunciou que irá intervir no processo tomando o lugar do Reitor e do Vice-Reitor. Medida que foi amplamente rechaçada pelos estudantes em Assembleia Geral, exatamente por ser um órgão ligado ao Governo e ao Partido Colorado conservador e corrupto. Posicionamento que o CONES já disse não irá levar em conta.

O apoio popular à luta dos estudantes da UNA é grande, assim como de estudantes secundaristas que se somam às ações dos universitários. Hoje os secundaristas realizaram uma paralisação nacional de escolas e marcharam até o Ministério da Educação exigindo 7% do PIB pra educação, entre outras demandas. A mobilização dos secundaristas se soma a dos universitários e promete durar longos dias, devido a intransigência do Presidente Cortes frente as demandas estudantis, que vão contra as políticas neoliberais que seu partido vem implementando desde 2013.

Uma luta internacional da juventude

Nos últimos dois meses, acompanhamos na América Latina intensos processos de mobilização estudantil, como no Uruguai, onde houveram ocupações de escolas e universidades, marchas de mais de 50 mil pessoas tendo a frente professores e estudantes em luta por 6% do PIB pra educação. Enfrentando forte repressão no dia 23 de setembro do Governo “progressista” da Frente Ampla, que enviou a polícia para desocupar a Administração Nacional de Educação Pública ocupada pelos estudantes em luta.

Na mesma semana, os estudantes chilenos que desde 2011 vem de fluxos e refluxos numa massiva luta estudantil pela educação pública, gratuita e laica tomaram novamente as ruas contra o Governo. Na Argentina, já são mais de 10 escolas ocupadas por estudantes contra a precarização e em defesa da educação pública, que no dia 25 deste mês realizaram uma grande marcha contando com professores e pais em apoio a mobilização.

Em todos esses países, vem caindo a máscara dos governos que se diziam "progressistas" e "populares" e que hasteavam alto a bandeira da Educação Pública de qualidade enquanto precarizaram cada vez mais o ensino, tanto para estudantes como para trabalhadores e professores.

No Brasil, a farsa da pátria educadora do PT também está chegando ao seu limite com os cortes aplicados em todos os âmbitos da educação pública, que passa muito longe de ser um direito de todos os jovens do país. Enquanto isso, as políticas do PT de incentivo às empresas privadas, como Fies e Prouni, que colocaram estudantes pobres na universidade às custas do enriquecimento dos barões da educação, entram em bancarrota.

Os escândalos de corrupção por parte da casta burocrática universitária da UNA, nos fazem lembrar em muito os escândalos dos supersalários na USP e UNICAMP, as principais estaduais do Brasil, assim como o escândalo dos contratos milionários da Fundação USP, envolvendo Professores do Conselho Universitário e a Petrobrás. Isso tudo em meio a um verdadeiro desmonte estar sendo implementado a passos largos, se apoiando no discurso de "crise financeira" na universidade.

Os estudantes paraguaios mostram o caminho, uma mobilização massiva e contundente contra o Regime Universitário e sua casta de burocratas, pela abertura do Livro de Contas da universidade, por uma profunda reformulação estatutária que varra os resquícios da ditadura militar, e em defesa da Educação Pública, gratuita e de qualidade. É hora de florescer em toda a América Latina a primavera estudantil!




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