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Uma dragqueen afroamericana e pioneira do ativismo da diversidade sexual que participou na revolta de stonewall. Fundou a casa S. T. A. R. e grande referência da luta pela conscientização da AIDS.

quarta-feira 11 de outubro de 2017 | Edição do dia

Nasceu no 24 de Agosto do ano de 1945 na região de Elizabeth no estado de Nova Jérsei, nos estados Unidos. Chegou em Nova York no fim dos anos ‘60 e na década de ‘70 se tornou inseparável da ativista trans Sylvia Rivera.

Pouco se conhece sobre sua infância mas há algo que a algo que a distingue desde sua adolescência, independentemente de como estivesse vestida, havia momentos que Johnson também afirmava sua identidade masculina sob o pseudônimo de Malcolm, Marshall ou Mikey, e nestes momentos se ofendia se a chamassem “Marsha” ou se usassem pronomes femininos. Ou seja, sua identidade de gênero era tão versátil quanto sua orientação sexual.

Sobreviver nas ruas

A preocupação imediata para Marsha e suas amigas era a subsistência. O centro de todos os projetos foi S. T. A. R, a Ação das Travestis de Rua Revolucionárias (pela sua sigla em inglês). STAR foi fundada no ano de 1970 graças à ajuda que conseguiram do Gay Liberation Front (Frente de Liberação Homosexual).

Johnson era a mãe da casa S.T.A.R, um hotel cujos quartos havia transformado junto com Sylvia Rivera em moradias comunitárias, as vezes para 50 ou mais pessoas e começaram a trabalhar em espaços autoorganizados e projetos que mantinham cobertas as necessidades tanto suas quanto de suas companheiras.

A prioridade era a subsistência mas também juntavam roupa e comida na casa para ajudar e apoiar as mais jovens drag queens, mulheres trans e outras crianças de rua que vivam nos píers da rua Christopher.

Segundo suas próprias palavras, “Originalmente STAR surgiu fundado por Sylvia Lee Rivera como sua presidenta e por Bubbles Rose Marie, e me perguntaram se me uniria ao projeto como vicepresidenta. Opinamos que se é necessário, temos que levantar armas para começar uma revolução”.

S.T.A.R. tinha dificuldades na hora de executar seus planos, que incluam bailes para arrecadar fundos, outra casa S.T.A.R, uma linha de telefonia, um centro recreativo, uma caixa de resistência para prisões e um advogado para as pessoas que eram presas pela sua identidade ou orientação sexual.

Seu humor ácido a representava e tinha um slogan latiguillo, “Pay it no mind”. Durante um julgamento, um juiz lhe perguntou a Marsha: “O que significa P (de seu sobrenome), ao que ela deu sua resposta habitual: “Pay it no mind” (não se preocupe) fazendo referência ao que se perguntavam sobre ela. Odiava responder se era homem ou mulher.

Assim relata sua companheira Sylvia Rivera como foi que se conheceram: “Eu estava andando pela Sexta Avenida e ela estava de pé em uma esquina. Me chamou de onde estava, nos apresentamos e uma fortíssima irmandade nasceu daquilo. Me levava para comer. Estava fazendo a rua porque tinha estado até aquele momento trabalhando como empregada de mesa no Restaurante Child’s. Mas sempre tinha que fazer horas extra, segundo me disse”.

Em 1974, trabalhou sendo fotografada por Andy Warhol, como parte da sua série polaroid “Ladies and Gentlemen”. Johnson foi também parte do grupo de dragqueens para performances de Warhol, “Hot Peaches”. Pode-se encontrar a entrevista realizada pelo ativista gay Allen Young no livro “Out of the Closets: Voices of Gay Liberation“, publicado originalmente em 1972.

Na década de 1980, Johnson continuou seu ativismo de rua como respeitada organizadora do ACT UP - AIDS Coalition to Unleash Power (Coalizão da SIDA para desfazer o poder), um grupo de ação direta fundado em 1987 para chamar atenção para a pandemia da AIDS.

Além de conscientizar sobre o HIV-AIDS, faziam fortes denúncias pelo pouco acesso ao trabalho da população trans. “Conheço muitas travestis que estão trabalhando como mulheres, mas quero ver o dia no qual nós travestis possamos ir e dizer: “Meu nome é sr fulano de tal e eu gostaria de trabalhar como senhora fulana de tal”.

O rio do lamento

Marsha havia estado na SSI (Segurança Social por Deficiência) por pouco tempo porque tinha sérias crises nervosas devido a morte do seu companheiro. Havia estado muitas vezes trancada em e em Manhattan State. Sua mente realmente começava a se perder e tinha visões. Um médico não a diagnosticou bem e foi muito tarde quando se deram conta que tinha sífilis. Assim que, quando finalmente detectaram, a doença já estava na sua segunda fase. Marsha vivia seu próprio mundo e via as coisas de forma diferente.

Era o mês de julho do ano de 1992, quando seu corpo foi encontrado no rio Hudson, não muito longe do píer de West Village, pouco depois da Marcha do Orgulho daquele ano. A polícia considerou a morte como um suicídio. Mas não convencidos desta teoria, seus amigos e companheiras lançaram uma campanha para saber como realmente morreu, já que nunca tinha tido tendências suicidas e seu corpo tinha ferimentos.

A história de ontem, a luta de hoje

A coragem que teve Marsha é um exemplo a seguir. Somente uma luta radical contra o sistema capitalista que se baseia na exploração e opressão das pessoas pode nos fazer conquistar uma verdadeira liberdade em todos os aspectos. Reviver a luta destas figuras é também combater o senso comum e a plena confiança no lobby parlamentar como saída.

A implementação da quota de trabalho trans, o cessar dos ataques homolesbitransfóbicos e a luta pelo fim da violência de gênero são algumas das bandeiras que as mulheres do Pão e Rosas e o Esquerda Diário defendemos aqui no Brasil e também na Argentina, onde levaremos estas como bandeiras no XXXI Encontro Nacional de Mulheres, porque ainda hoje a igualdade perante a lei não é a igualdade perante a vida

Tradução de Marie Castañeda




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