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Mais de 300 mortos: nicaraguenses preparam novas mobilizações contra Ortega

segunda-feira 9 de julho de 2018 | Edição do dia

Nesta quarta-feira, milhares de nicaraguenses formaram uma corrente humana sobre a estrada entre Managua a Masaya, para exigir novamente a renúncia de Daniel Ortega, cujo terceiro mandato consecutivo será finalizado em janeiro de 2022. Com as cores da bandeira da Nicarágua, os manifestantes realizaram um "acampamento cívico" entre as rodovias da capital, Rubén Darío e Jean Paul Genie, com uma distância de 3,5km entre elas.

“O povo se levantou e dizemos a Ortega que saia, que renuncie, o povo não tem medo dele”, disse um jovem de 27 anos, com uma bandeira nas mãos.

O repúdio popular continua se expressando nas ruas, de modo que distintos setores e organizações sociais tem apontado a importância de manter o nível de participação nas mobilizações. Neste sentido, a Alianza Cívica por la Justicia y la Democracia (encabeçada por centrais empresariais) informou sobre uma nova convocação para a marcha nacional no dia 7 de julho, chama “Juntos somos um vulcão”, prevista para acontecer em Managua, mas com réplicas em todo o país.

Organizações tem enfatizado a necessidade de acompanhamento de diferentes organismos internacionais e de Direitos Humanos, já que a população tem insistido no risco de que se repitam os ataques de organizações paramilitares, como foi o caso da repressão contra a “Marcha de las Flores” e da caravana do domingo, dia 1.

Repressão inclui ataques químicos contra a população

O fim de semana passado esteve marcado por mobilizações de solidariedade com o povo da Nicarágua em mais de 80 países. Enquanto o repúdio contra o governo de Daniel Ortega e sua esposa Rosario Murillo se expande internacionalmente, no país centro-americano ocorrem novas agressões contra a maioria da população, que inclui ataques com o uso de produtos químicos em alguns pontos onde permanecem barricadas, trincheiras e bloqueios de estradas.

Em uma recente publicação do jornal El País, é relatada a escalada repressiva na localidade de Boaco. A população denuncia os métodos utilizados pelas forças policiais e paramilitares com o uso de ácido sulfúrico e outras substâncias químicas. “López teve parte do rosto afetada, orelhas, pescoço e parte das costas. O homem assegura que outras 25 pessoas foram afetadas, algumas com danos nos olhos. Os feridos foram transferidos para um hospital de Managua. O líquido que queimou a pele, segundo as vítimas, era ‘ácido sulfúrico’, um composto químico extremamente corrosivo”, relata o jornal.

A Associação Nicaraguense Pró Direitos Humanos (ANPDH) denunciou que grupos paramilitares ocupam centros de detenção ilegais, como El Coyotepe, em Masaya; San Isidro de Bolas; a antiga prisão de mulheres La Esperanza, em Managua; e Monte Luna, em Masarepe.

Segundo a associação, na última terça-feira foram contabilizados 309 pessoas mortas desde o início dos protestos contra o governo em 18 de abril, pela repressão de forças policiais e paramilitares contra os manifestantes (em sua maioria jovens e feridos por bala), dos quais ao menos 56 pessoas não puderam ser identificadas. Sobre o assunto, foram documentados mais de 1.500 casos de pessoas feridas nas manifestações e, ao menos, 158 cidadãos “desaparecidos ou sequestrados” pelo Estado.

Durante seu primeiro dia de trabalho, o Grupo Interdisciplinar de Peritos Independentes (GIEI) localizado na Nicarágua, soliciou às autoridades que fornecessem a “documentação básica e imprescindível” para o início das investigações que farão sobre os atos de violência ocorridos durante as manifestações contra o governo.

A Alianza Cívica discute a saída eleitoral para favorecer o regime

A Alianza Cívica está preparando maneiras para acordar um calendário eleitoral com o governo. Embora até agora a data provável para realizar eleições antecipadas seja domingo, dia 31 de março de 2019, por meio de distintas rodas de negociação, sabe-se que estão considerando outras datas, uma delas é dezembro de 2018.

A data escolhida está sujeita a permitir que seja renovado todo o pessoal do Conselho Supremo Eleitoral que tem sido cúmplice das fraudes eleitorais da última década, mas também, que os partidos políticos possam se reorganizar e definir suas propostas. Enquanto o povo nicaraguense enfrenta de maneira cotidiana a repressão, a Alianza Cívica decidiu dar espaço para o regime nicaraguense para ajustar suas necessidades e buscar uma saída ordeira que favoreça os interesses dos partidos políticos e os empresários do Conselho Superior de Empresas Privadas (COSEP).

O pano de fundo da questão é a realização de um processo eleitoral sem Daniel Ortega, mas cujas bases estruturais do Estado permanecem intocáveis.

O calendário eleitoral e as mudanças que a Alianza Cívica discute com Ortega serviriam somente para organizar uma transição pactuada – sem a representação das grandes maiorias afetadas pelo governo orteguista -, cujo objetivo é dar continuidade ao modelo entreguista e descarregar com maior força a exploração sobre os ombros dos trabalhadores do campo e da cidade.

Como enfatizamos aqui, “é preciso buscar a ruptura com a Alianza Cívica dos empresários e a Igreja com seu programa, para que a vanguarda que começou a se forjar nessas lutas possa orientar-se de maneira independente e com uma perspectiva superior. Essa necessária delimitação está ligada a uma discussão profunda do balanço da luta desenvolvida até agora, e a tarefa de multiplicar, consolidar e desenvolver a organização que começou a germinar nas barricadas, nos bloqueios e nas ocupações, uma conquista que não deve se deixar diluir por ilusões no diálogo”.

Para que o movimento de massas, com suas justas demandas não fique subordinado atrás de uma substituição deste tipo de poder, é preciso levantar uma alternativa independente, mas que também se coloque a necessidade de fazer frente à ingerência do imperialismo estadunidense sobre as decisões e a saída política na Nicarágua.

Tradução: Ana Carolina Fulfaro

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