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Mães em luta por justiça contra a violência policial erguem seu grito na Sapucaí

Redação

Mães em luta por justiça contra a violência policial erguem seu grito na Sapucaí

Redação

Na maior celebração da cultura popular do país, as mães das vítimas da violência policial e do Estado, junto das escolas de samba levam à Sapucaí a luta por justiça e memória.

Imagem: assessoria vereadora Mônica Cunha

Na última segunda (12), desfilaram na Portela, tradicional escola do grupo especial do Carnaval do RJ, 16 mães de vítimas da violência policial e do Estado. Assim como ontem (13), a Miúda da Cabuçu, em homenagem a Kathelen Romeu e seu bebê, com sua mãe e familiares na linha de frente, se somaram outras mães, familiares e pai que dividem a luta. Elas levaram as blusas, placas com nome de seus filhos e ergueram seu grito por justiça e memória em meio à Sapucaí, encerrando o desfile destas escolas de maneira emocionante.

Foto: Mídia Ninja

Veja os nomes das mães e dos filhos que desfilaram:
Ana Claudia, tia do Thiago Menezes Flausino – coletivo Pão e Rosas e da Cidade de Deus
Ana Paula mãe e Patrícia tia do Johnatha de Oliveira Lima – Mães de Manguinhos
Bruna Mozer, mãe de Marcos Luciano Mozer de Sousa – Miquiço
Bruna Silva, mãe do Marcos Vinícius da Silva– Mães da Maré
Fátima Pinho, mãe do Paulo Roberto Pinho de Menezes (Nego)- Mães de Manguinhos
Fernanda, mãe do Marcos Silva de Miranda – Mães da Maré
Hortência, mãe do Gelson Martins Filho - Mães da Maré
Izildete, mãe do Fábio Eduardo Soares Santos de Sousa - Bangu
Ivone, mãe do Moïse Kabagambe – Madureira
Jackeline mãe, Luciano pai e Sayonara avó da Kathlen de Oliveira Romeu e da neta Maya – Lins
Janaina, mãe do Jhonata Dalber Mattos Alves – Borel
Jorge, pai do Roberto de Souza Penha (Beto) – Costa Barros
Laura, mãe do Leandro Amorim Costa – Piscinão de Ramos
Sandra, mãe do Matheus Gomes – Mães do Jacarezinho
Maria de Fátima (Fatinha), mãe do Hugo Leonardo dos Santos Silva - Rocinha
Marinete, mãe da Marielle Franco – Maré
Mônica Cunha, mãe do Rafael da Silva Cunha – vereadora no Rio de Janeiro (PSOL)
Nívia, mãe do Rodrigo Tavares – Baixada Fluminense
Nádia, mãe do Cleyton dos Santos Bravo, Cleyverson dos Santos Bravo e tia do Fabrício dos Santos- Chapadão
Sônia, mãe do Samuel Bonfim Vicente e esposa do Willian Vasconsellos da Silva- Chapadão

Na terça (13) desfilou a escola infantil Miúda da Cabuçu, com enredo dedicado a homenagear Kathlen Romeu, jovem de 24 anos, grávida, assassinada pelo Estado no Complexo do Lins em julho de 2021. A letra é emocionante:

A menina mais bela presente
A voz da favela inocente…
Um futuro brilhante
De fé e paixão
Em Nossa senhora sua devoção
Pé descalço honrando a raiz
Se a infância é um doce a criança é feliz
Por essa magia se encantou
Hoje tem Circo! Tem sim senhor!

E na Bahia desci o Pelô brinquei
Me encantei com o som do ijexá
Por seu misticismo me apaixonei
Todo Respeito as crenças de lá

As lentes da vida registraram
sua beleza
Mulher de fibra que ao mundo encantou…ô ô ô !!!
Seu ventre embalava o Amor
Na esperança de um novo amanhã
E Lá do céu meu Deus me abençoou
Hoje só resta saudade
A luta não pode parar
Vidas Negras Importam
Sua voz não vai se Calar
Nossa voz não vai se Calar …

Estrela que brilha no céu
Reluz na imensidão..
Boas lembranças trazem emoção
Hoje a Miúda vai eternizar
Kathlen Romeu no meu coração”

Em cada ato, em cada fala, as mães trazem os sonhos, gostos, alegrias de seus filhos, relembrando-os, e juntas, seguem afirmando a necessidade de justiça e para que as futuras gerações não tenham seus sonhos interrompidos. O carnaval da Sapucaí mais uma vez traz a realidade para a avenida e dá voz as mães vítimas do Estado, como parte de expressar a luta cotidiana de mães e familiares contra o Estado racista.

Vejam imagem do desfile de terça (13). A homenagem a Kathelen, contou também com a presença de outras familiares, mães e pai que seguem se apoiando na luta por justiça e memória. O coletivo internacional de mulheres e LGBTQIAP+ Pão e Rosas também esteve presente nessa homenagem.

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E como impacto do samba enredo da Portela, de título “Um defeito de cor”, referência ao livro já esgotado para as compras na Amazon, também mostra como é um tema fundamental e que o Carnaval é expressa parte da vida da classe trabalhadora, que é feminina e negra majoritariamente, e que com criatividade e trabalho planejado desenha carros alegóricos, representa coordenadamente cada ala, com a dança, marcando a Sapucaí a céu aberto.

Toda essa força, que a arte popular expressa no Carnaval, para nós como parte da classe trabalhadora é combustível para batalhar por impulsionar a auto-organização. Isso demostra a importância dos sindicatos, entidades estudantis, movimentos sociais e partidos de esquerda apoiarem e impulsionarem a luta por justiça, memória e contra a violência policial que é parte da cadeia de racismo. Hoje, os governos têm as mãos sujas de sangue, como o governo estadual de Claudio Castro (PL) que fez a Chacina do Jacarezinho, maior dos últimos tempos. Que retomemos a história do Quilombo dos Palmares, Luisa Mahin, João Cândido, líder da revolta dos Males (fortemente referenciado pela Paraíso do Tuiuti) que são parte da história não contada nos livros dos historiadores capitalistas, pois sempre buscam apagar as demonstrações de que a classe trabalhadora é potencialmente revolucionária e pode tomar as rédeas da sociedade e construir um mundo novo.

A lição é dada para toda a esquerda e por isso chamamos toda a esquerda a impulsionar a campanha por Justiça e pelo fim da violência policial, pois essas mães que transformam a dor em luta é uma dor de toda classe trabalhadora. Não à toa foi motivo que inspirou à arte do Carnaval.

Estamos junto às mães de Manguinhos, Jacarezinho, assim como também de Paraisópolis em SP, que compartilham dessa mesma dor e dessa mesma luta homenageada na Sapucaí, em uma incessante batalha por justiça e denunciando a responsabilidade do Estado capitalista em cada uma dessas vidas perdidas.


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