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"A raiz do nosso rap sempre foi revolução"

Marcelo Lana

"A raiz do nosso rap sempre foi revolução"

Marcelo Lana

Katú Mirim é uma rapper, cantora, compositora, atriz e ativista da causa indígena, nasceu e cresceu em São Paulo. Em entrevista ela conta que ainda na infância foi descobrindo a sua ancestralidade indígena. Katú Mirim foi adotada por um casal não indígena da periferia de SP, anos de racismo e o contato com seus pais biológicos a levou a reconectar-se com suas raízes, aprofundando e estreitando relações das quais foram manifestadas em sua arte, por meio das suas letras de Rap e Hip-Rock como descrito por ela. Nas suas músicas, Katú Mirim, vai abordar temas como: sua ancestralidade, gênero, orientação sexual, entre outros.

No seu último álbum, Cura, Katú Mirim lançou a música "Bling Bling", na qual expressa uma denuncia desde a ostentação no rap, ligando o consumo de correntes, e acessorios de ouro ao garimpo ilegal em terras indigenais, destruição causada pela barbarie capitalista que lucra com a morte de todo um povo, que é simbolo de resistencia e luta contra esse sistema que só nos reserva a miséria, fome e morte.

confira alguns trechos da música:

Mano acorde, tá se achando, agora tu é midas?
Corrente de ouro, tu tá pagando com as nossas vidas!
Afirmação não está mais no ouro não, então recorde
O que brilha no teu corpo no meu ele só faz cortes
[...]
Barras e balas
Tum ratata, na nossa cara
Sua ganancia gera matança
Corpos gelados sem esperança
[...]
Com humildade e com verdade, eu te passo a visão
A raiz do nosso rap sempre foi revolução
Ouro no seu pescoço, aço no nosso braco
E tá tudo igual: Sequestro, pegada no laço
Então chega então pare, pare de nos matar
Então chega, então pare, pare de garimpar

Katú Mirim, inicia com uma série de reportagens que retratam as tragédias vivenciadas pelos indígenas desde para além da terrível situação de crise humanitária vivida pelo povo Yanomami e diversas outras sociedades indígenas, apontando que a produção e a reprodução da vida através do sistema capitalista, gera mercadorias como correntes, pingentes e acessórios de ouro tão ilustradas e exaltadas dentro da cena do hip-hop, que são fruto da ganância, exploração e genocidio dos povos originários. Esse consumo é fruto de uma indústria que parte de uma burguesia ultra racista, que extrai minério e pedras preciosas das colônias, incluindo Brasil a séculos, gerando um banho de sangue nas américas e no continente africano a fim de lucrarem a todo custo com a utilização desses recursos. E por outro lado, temos setores da indústria cultural que tentam implementar nos segmentos de música negra, principalmente no rap e no funk, elementos ideológicos que não são da classe trabalhadora, como por exemplo, a lógica meritocrática, a ascensão individual através do consumo etc. Dito isso, há sim setores dentro do rap e funk que decidem consumir essas joias, correntes de ouro e demais acessorios sem nenhuma critica e se vinculam a ideologia burguesa, passando a perpetuar a lógica desse sistema que oprime e explora, tanto os negros quanto os povos indigena, expoliando os recurso naturais de suas terras, devastando o meio-ambiente, matando a fauna e a flora, poluindo águas e expulsando povos inteiros com o garimpo ilegal.

É importante também demarcar que a manutenção do garimpo ilegal e o genocidio permanete do povo indigena tem seu sangue escorrendo pelas mãos da burguesia, da extrema direita e também da frente ampla, levada a frente pelo governo Lula-Alckmin, onde, a derrubada do veto ao Marco Temporal, ataque brutal aos povos indigenas, contou com o voto do ministro da Agricultura e Pecuária escolhido por Lula, Carlos Fávaro (PSD), grande nome do agronegócio, além disso é importante demarcar que a crise Yanomami segue, com números inclusive proximo aos do governo Bolsonaro, como trás dados do Ministerio da Saúde onde é possivel ver que em 2023, foram registradas 308 mortes entre os yanomami e 343 óbitos registrados em 2022. As mortes por desnutrição e doenças relacionadas à falta de assistência médica na região, por conta da presença de garimpeiros nesses territórios, mostrando na prática que é a conciliação de classes que abre espaço para extrema-direita.

Assim como Katú Mirim diz em sua música: "A raiz do nosso rap sempre foi revolução", sempre foi questionar o racismo nascido e perpetuado por esse sistema podre e é preciso destruí-lo até suas raízes para acabar com toda opressão e exploração. Sendo assim, devemos batalhar por uma estratégia socialista que seja oposição à produção burguesa, uma alternativa de produção e reprodução da vida em consonância com a natureza, em um sistema que podemos nos expressar livremente, com uma produção que atenda nossas necessidades de manifestação artística e expressão estética, não fazendo coro com o massacre dos povos originários e nem da exploração do trabalho de pele negra. Batalhamos assim para que os sindicatos rompam com suas paralisias frente ao governo e impulsionem assembleias de base, unifiquem as lutas e paralisações da classe trabalhadora em unidade com os povos indígenas e todos setores oprimidos, de forma independente de patrões e dos governos, contra as política conciliadoras do governo de frente ampla Lula/Alckmin com a direita, superando os ataques e o discurso demagógico frenteamplista, combatendo de uma vez por todas o garimpo ilegal e derrubando o Marco Temporal, contra a ganância capitalista por meio da luta da classe.


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Marcelo Lana

Estudante Licenciatura em Educação Física na UFMG
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