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100 ANOS DA REVOLUÇÃO RUSSA | Crônica visual da insurreição que sacudiu o mundo

Na noite do 24 para o 25 de outubro de 1917 (6 e 7 de novembro no calendário ocidental gregoriano) aconteceu a insurreição mais determinante da história, a Revolução Russa. Fazemos uma retomada por imagens e testemunhos desta noite tão decisiva.

terça-feira 7 de novembro de 2017 | Edição do dia

A insurreição de outubro deu espaço ao parlamento mais democrático que todos os outros que já existiram na história. “Todo poder aos soviets dos operários, soldados e camponeses! Pão, paz e terra” foi o título do jornal bolchevique da manhã de 25 de outubro após ter tomado os centros estratégicos do poder do Estado.

Longe de mitos sangrentos, a insurreição supôs a constatação de uma dinâmica revolucionária e se expressou em uma surpreendente calma. A planificação política dos bolcheviques foi determinante para o êxito insurrecional. Os trabalhadores, soldados e camponeses russos haviam tido uma grande experiência desde a revolução de fevereiro que colocou abaixo o regime czarista mas que não conseguiu resolver as grandes questões democráticas da velha Russa, o que desembocou em uma potente dinâmica revolucionária.

Somente faltava o último salto, tomar os centros de poder do Estado. A estratégia de Lênin, a posição de Trotsky frente ao Comitê Militar Revolucionário e a participação dos quadros bolcheviques fizeram possível a insurreição. No final de outubro só era necessário decidir a data mais adequada para dar o último passo rumo à tomada do poder.

Para nos aproximarmos do clima desta noite tão decisiva tomamos os relatos de alguns dos protagonistas daqueles dias e os acompanhamos de imagens da época. As experiências vividas naquelas horas por Trotsky, Lenin e John Reed nos aproximam do cenário da insurreição.

"Camaradas: Escrevo estas linhas no dia 24 pela tarde. A situação é crítica ao extremo. É claro como a luz do dia que hoje tudo que seja adiar a insurreição significará verdadeiramente a morte. Colocando nisso todas minhas forças, quero convencer os camaradas de que hoje tudo está preso por um fio, de que na ordem do dia estão questões que não se podem resolver por meio de conferências, nem de congressos (ainda que sejam inclusive congressos dos Soviets), mas sim unicamente pelos povos, pelas massas, por meio da luta das massas armadas. (...) É necessário, a todo custo, deter o governo nesta tarde, nesta noite, desarmando previamente os cadetes (após derrotá-los, se demonstram resistência), etc. Não se pode esperar!! Não podemos colocar tudo a perder!!" (Carta aos membros do Comitê Central, V. I. Lenin.)

Lenin discursa da parte de trás de um carro (Petrogrado, 1917)

"Não era difícil imaginar a cidade de Petrogrado deserta, mal iluminada, chicoteada pelos ventos outonais do mar. Os burgueses e os funcionários deveriam aconchegar-se em suas camas, tentando adivinhar o que estaria acontecendo nas ruas perigosas e misteriosas. Os bairros operários dormiam com o sonho intenso de um acampamento pronto para a batalha." (Minha Vida, L. Trotsky)

Petrogrado (Avenida Nevsky, 1906)

"Nos distritos da cidade se montam guardas de destacamentos operários, marinheiros e soldados. Os jovens proletários carregam fuzis e os troncos apertados pelos cinturões de cartuchos das metralhadoras, as esquadras encarregadas da guarda nas ruas que se esquentavam junto às fogueiras. (...) De todos os distritos da cidades se lançam às ruas destacamentos armados, chamam nas portas ou as abrem sem chamar e ocupam militarmente todos os edifícios públicos. Estes destacamentos encontravam amigos quase em todas as partes que os esperavam com impaciência. (...) Não existe nada de alarmante. Todos os pontos mais importantes da cidade caiam sob nosso poder, quase sem resistência, sem luta, sem vítimas." (Minha Vida, L. Trotsky)

Manifestação de operários armados e do Exército Vermelho em Petrogrado (1917)

"Os pequeno burgueses se esfregavam os olhos, assustados frente ao novo regime. Mas é possível que os bolcheviques tenham conquistado o poder? (...) Algo mudou nesta noite. Três semanas antes tínhamos conseguido a maioria no soviet de Petrogrado. Éramos quase uma bandeira, sem imprensa própria, nem caixa, nem sessões. Na noite anterior o governo tinha mandado prender o Comitê Militar Revolucionário e havia revistado nossos domicílios. (...) O governo continuava reunido como sempre no Palácio de Inverno. Mas não era mais do que uma sombra de si mesmo. Politicamente já não existia. Durante a jornada do 25 de outubro, o Palácio de Inverno foi cercado pouco a pouco pelas tropas". (Minha Vida, L. Trotsky)

Recriação do assalto ao Palácio de Inverno no terceiro aniversário.

"Na quarta-feira, 7 de novembro, acordei muito tarde. Quando saí na Avenida Nevski, na Fortaleza de Pedro e Pablo ressoou um tiro de canhão as 12:00. O dia era úmido e frio. Frente as portas fechadas do Banco do estado estavam vários soltados armados de fuzis com a baioneta calada. “De quem são vocês?”, perguntei, “Do governo?”. “Já não existe governo!” respondeu sorridente um soldado, “Graças a Deus!”. Pela Nevski, como sempre, circulavam os bondes. De todos seus cantos se penduravam homens, mulheres, crianças. Os comércios estavam abertos e em geral, a rua parecia inclusive mais tranquila que na véspera. Durante a noite as paredes se haviam coberto de novas demandas e chamadas, advertindo contra a insurreição. Eram dirigidas aos camponeses, aos soltados da frente e aos operários de Petrogrado." (Dez dias que abalaram o mundo, J. Reed.)

Guardas vermelhos marcham ao instituto Smonly

"No 25 de outubro deveria ser inaugurado em Smolny o parlamento mais democrático de todos que já haviam existido na história mundial. E talvez (quem sabe?) o mais importante. Um vez libertos da inteligência conciliadora, os soviets das províncias haviam enviado numerosos operários e soldados. Na sua maioria pouco conhecidos, mas em troca testados em ação, e haviam ganho por isso uma sólida confiança nas ruas localidades. (...) Quase todos haviam despertado para a vida política com a revolução. Tinham se formado com a experiência daqueles oito meses. Pouco era o que sabiam, mas o sabiam solidamente. A aparência exterior do Congresso refletia sua composição. Os chevrons dos oficiais, os óculos e gravatas dos intelectuais do primeiro Congresso já quase não se viam. Dominava em geral a cor cinza nas roupas e nos rostos". (História da Revolução Russa, L. Trotsky.)

II congresso dos soviets de toda a Russia




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