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ATO na Av Paulista | Como fica Bolsonaro depois dos atos de domingo?

Com um discurso defensivo e moderado, mas igualmente reacionário, Bolsonaro se apresentou na Av. Paulista ao lado de alguns dos seus principais aliados, como os governadores Tarcísio e Zema. Os números do ato são objeto de debate, mas as dezenas de milhares de apoiadores na manifestação não foram suficientes para Bolsonaro virar o jogo. De toda forma, foi uma importante demonstração de forças, que mostrou que o bolsonarismo radical não morreu e vai ser usado com objetivos defensivos, ao menos por ora, na tentativa de negociar um pacto de impunidade para Bolsonaro e os militares.

Thiago FlaméSão Paulo

segunda-feira 26 de fevereiro | Edição do dia

A primeira constatação que se tira do ato de domingo é a impotência de derrotar o bolsonarismo, enquanto movimento social da extrema direita, através de uma ação judicial. Era imprevisível como a ofensiva do STF poderia impactar na base social bolsonarista. Já tínhamos visto o precedente de Trump, que mesmo com a ofensiva jurídica que passou vêm se fortalecendo nas internas republicanas. O nível de autoritarismo e medidas arbitrárias na ação do STF favoreceram Bolsonaro, ao lhe facilitar a possibilidade de se apresentar como vítima para a sua base, mas como dissemos, isso não muda a correlação de forças e a capacidade de mobilização que mostrou a extrema direita enquanto adotou um tom defensivo e conciliador, não significa que Bolsonaro conseguiu sair da situação difícil em que se encontra, muito menos que tem forças para passar a ofensiva.

O mais significativo para Bolsonaro é que conseguiu reagrupar as forças e reafirmar sua liderança sobre a oposição de extrema direita. O ato foi pensado milimetricamente para evitar o protagonismo da base mais radicalizada e suas faixas pedindo intervenção militar e deixar o bolsonarismo institucional, com Tarcísio à frente, ocupar o primeiro plano. Até a semana passada todo o petismo estava aos afagos com Tarcísio, a partir do acordo com o governo Lula que se comprometeu com verbas milionárias para financiar o projeto privatista do governador. Não faltaram acenos amigáveis nem da parte de Boulos, o candidato do PSOL e de Lula para a prefeitura de São Paulo. E com o carimbo de um governador “respeitável” e “republicano” conferido por Lula, Tarcísio foi peça chave no ato de domingo e na construção da imagem conciliadora que Bolsonaro quis transmitir.

Depois do 8 de janeiro as forças da Frente Ampla tinham conseguido colocar uma cunha entre Bolsonaro e sua base radicalizada e os governadores e ala mais moderada e institucional do bolsonarismo. Lula e a Frente Ampla avançaram em levar setores do Republicanos e do PL para o governo, pagando o custo de uma inflexão ainda mais à direita do governo da Frente Ampla. O ato de domingo preenche todas essas brechas, mas permite que Bolsonaro volte a ser um fator nas negociações de montagem das chapas municipais, como demonstrou a presença de Nunes no ato – ainda que covarde e envergonhada da parte de Nunes. E sobretudo e talvez o mais importante, permite que Bolsonaro ganhe tempo, na esperança de uma vitória que parece cada vez mais provável de Trump em novembro.

Com tudo isso retornamos na questão mais importante. O movimento da extrema direita não é um fenômeno passageiro e mesmo que o STF avance para a prisão não significa que o bolsonarismo, como corrente política e ideológica, estará morto. Mais uma vez se mostra como a conciliação de classes que fortalece a extrema-direita. É no terreno da luta e da mobilização que derrotaremos a extrema direita, seguindo pelo caminho que os argentinos estão indicando. Lá na Argentina, depois da paralisação nacional no mês passado, hoje, enquanto escrevemos estas linhas, são as professoras e professores que está protagonizando uma paralisação nacional enquanto a forte oposição combativa dos sindicatos de professores, referenciadas nas correntes da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores / Unidade estão exigindo que a paralisação prossiga junto a um plano de lutas de todas as centrais sindicais para derrotar Milei. É assim também que derrotaremos o bolsonarismo, o governo Tarcisio e suas privatizações e que podemos garantir a punição de todos os responsáveis, civis e militares, pelos crimes cometidos durante o governo de Bolsonaro.




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