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Prévias eleitorais na Argentina | Bregman-Del Caño ganham internas da FITU e darão a batalha em outubro contra a direita e o ajuste do Governo

Milei avançou com base no descontentamento com os últimos governos da direita e do peronismo, e é o candidato mais votado. Unión por la Patria, a coalizão governista, sai em terceiro lugar, pagando o custo de aplicar sistematicamente os planos de ajuste, subserviente ao FMI e permitindo o avanço da direita com seus dirigentes sindicais e sociais na passividade. Juntos por el Cambio, a coalizão de direita, até agora divididos, recalculam para outubro. Neste quadro, Bregman e Del Caño, da lista com o PTS à frente, partido irmão do MRT, ganharam por larga margem as internas da Frente de Esquerda e serão a única alternativa para os trabalhadores, mulheres e jovens em outubro. Eles fazem parte dos únicos cinco candidatos aprovados nas PASO entre 27 pré-candidatos. Ótima votação de Alejandro Vilca em Jujuy.

Fernando ScolnikBuenos Aires | @FernandoScolnik

segunda-feira 14 de agosto de 2023 | Edição do dia

A Frente de Esquerda e dos Trabalhadores Unidade (FITU) alcançou quase 630.000 votos (2,65%) na categoria presidencial, nos marcos de uma eleição muito à direita em que Javier Milei do La Libertad Avanza (30,04%) ficou em primeiro lugar. Como segundo candidato mais votado aparece Sergio Massa da coalizão governista com 21,35 %, ainda que como aliança o somatório de Patricia Bullrich e Horacio Rodríguez Larreta (com o triunfo da primeira), os situa no segundo lugar com 28,27 % dos votos.

O peronismo recuou mais de 20% em relação às PASO de 2019, enquanto o Juntos por el Cambio obteve cerca de 5% a menos do que naquela ocasião. Javier Milei, fenômeno emergente, avança sobre o descontentamento com os últimos governos, que se alimenta de uma contínua deterioração das condições de vida de milhões sob um sistemático processo de ajustes nos últimos mandatos e aprofundamento da subordinação e rendição ao FMI.

Particularmente nos últimos anos, o peronismo no poder possibilitou o avanço da direita ao gerar decepção em sua própria base social e eleitoral, quebrando todas as promessas de campanha de 2019 e aplicando os planos de ajuste do FMI, validando o legado macrista. Os dirigentes sindicais e sociais pró-governo, com a sua passividade, contribuíram para que, neste contexto, o descontentamento fosse essencialmente capitalizado por um fenômeno de direita como Javier Milei, que por sua vez foi impulsionado por vários setores da política, da mídia e do poder econômico para deslocar a agenda do debate público para a direita.

É neste quadro, em que recuaram as duas coalizões mais importantes dos últimos anos, que a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores Unidade defendeu com empenho o seu espaço, desenvolvendo uma grande campanha militante e investindo desde baixo com a força de milhares de trabalhadores, mulheres e jovens, para propor uma saída para a crise favorável às grandes maiorias. Myriam Bregman e Nicolás del Caño são uma das 5 fórmulas presidenciais que passaram nas PASO dentre as 27 apresentadas.

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Dentro da FITU, a lista encabeçada por Myriam Bregman e Nicolás del Caño prevaleceu na eleição presidencial por ampla margem com 70% dos votos, vencendo em quase todo o território nacional, incluindo a estratégica província de Buenos Aires e em todas as cidades dos subúrbios de Buenos Aires, onde estão localizadas algumas das maiores concentrações operárias e populares do país. É a lista "Unir e Fortalecer a Esquerda" formada pelo PTS e a Izquierda Socialista.

Por província:

No conurbano de Buenos Aires:

Entre os resultados mais destacados da esquerda está o da província de Jujuy: na categoria de Deputados e Senadores, obteve cerca de 10%, com Alejandro Vilca e Natalia Morales do PTS vencendo por ampla margem a interna e constituindo um resultado relevante após a profunda rebelião popular ocorrida na província contra a reforma do repressor e autoritário governador Gerardo Morales, que a realizou com a cumplicidade do peronismo. O resultado implicou dobrar o percentual em relação ao pleito nacional de 2019. À época, a esquerda alcançou 4,8% dos votos.

Como assinalou Myriam Bregman na conferência de imprensa na noite deste domingo, após os resultados “somos a única lista em Outubro que confronta os candidatos do FMI e as políticas de ajuste e repressão. Para nós é um grande desafio. Nosso desafio será defender a agenda das mulheres, as reivindicações socioambientais, diante de tantos candidatos que promovem o extrativismo contra comunidades nativas e aqueles que se levantam todos os dias para trabalhar”.

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Em relação aos resultados eleitorais, Bregman também expressou que “quem tem que explicar por que a direita cresceu tanto é a Unión por la Patria e os que governaram até agora. Em 2019 disseram que tinham que votar neles porque era a garantia de que a direita não avançaria, mas a direita avançou como nunca antes.”

Da mesma forma, a respeito das prévias da Frente de Esquerda, a candidata a presidente assinalou que a lista que encabeça "não usou um centímetro de jornal, nem um minuto de televisão para atacar outros companheiros e companheiras de esquerda, mas sim para denunciar os candidatos do ajuste, que foi o que fizemos”. Este foi um debate com o Partido Obrero durante as últimas semanas, que encabeçava a outra lista.

Por sua vez, Nicolás del Caño afirmou que "com certeza muita gente canalizou a raiva contra o Governo votando no libertário Milei. Temos o desafio de desmascarar que sua política vai contra os direitos dos próprios trabalhadores que votaram nele. Chamamos também a todos os que votaram em outras listas de esquerda e aos que querem enfrentar o ajuste para concentrar o voto para dar uma mensagem clara contra os ajustadores e repressores em outubro.”

Para enfrentar o que está por vir, precisamos de uma alternativa de esquerda que batalhe por novas cadeiras legislativas para fortalecer as luta por outra saída à crise, uma saída operária e socialista. A FITU será em outubro a única alternativa contra o ajuste e a direita. Essa batalha se torna mais crucial do que nunca, em um momento em que o FMI e o grande capital pedem mais medidas de ajuste do que Massa aplica, enquanto a crise se aprofunda com reservas do Banco Central em números negativos, pressões de desvalorização e inflação mais alta em 30 anos.




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