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PARTIDO | As batalhas do MRT contra o golpismo institucional e os ataques aos trabalhadores

Para enfrentar o golpismo institucional e os ataques aos trabalhadores com ampla unidade de ação é preciso uma estratégia e um programa independentes do PT.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

terça-feira 10 de abril de 2018 | Edição do dia

O MRT desde o golpe institucional de 2016 se posicionou de maneira firme contra o próprio golpe, a Lava-Jato e toda a direita que queria implementar um plano de ajustes ainda mais duros do que o PT vinha implemntando. O fizemos de maneira independente do PT, a partir do Esquerda Diário buscando se alçar como uma "terceira voz" no cenário nacional. Esta posição se deu em enorme luta política com a esquerda conhecida como "golpista" que seja com "Fora Todos" ou com "Viva Lava Jato" naquele momento apoiaram o golpe, abrindo espaço pra todos os ataques. Também fomos contra a condenação arbitrária de Lula desde o julgamento em 1ª instância e frente a absurda decisão do STF contra o habeas corpus colocamos a necessidade de que as centrais sindicais convocassem de imediato uma luta massiva pra impedir a prisão de Lula e enfrentar todo o plano de ajustes em curso. Viemos insistindo que para enfrentar tanto o autoritarismo judiciário quanto os ataques econômicos é necessária a mais ampla unidade de ação.

Diante do despacho de Sérgio Moro pedindo efetivamente a prisão, o PT, a CUT e outras entidades organizações convocaram uma vigília em São Bernardo do Campo que terminou com um discurso de capitulação e entrega. Como apontamos aqui esta manifestação que juntou alguns milhares servia apenas pra encobrir uma estratégia impotente do PT. Afinal, estamos falando de um partido que dirige uma central sindical como a CUT que tem 25 milhões de trabalhadores em sua base e que desde a condenação em 1ª instância, há quase um ano atrás, não organizaram uma luta nas bases pra efetivamente organizar os trabalhadores demonstrando que a prisão de Lula se tratava de uma continuidade do golpe institucional. Ao contrário, atuaram contra as lutas dos trabalhadores permitindo a aprovação da reforma trabalhista sem luta.

Frente a tudo isso rechaçamos fortemente todas as reações da direita, desde a repressão em Curitiba até as homenagens reacionárias a Moro e Carmen Lúcia em São Paulo.

Mas grande parte da esquerda guardou seu "programa revolucionário" na gaveta pra abraçar Lula e fazer parte desta capitulação histórica no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Mais que isso, o próprio PSOL vem sendo parte de compor um manifesto programático pra reconstruir o Brasil agora com um programa "neo-desenvolvimentista" junto com PT e PCdoB mas também com os partidos burgueses PSB e PDT. As especulações que desta frente possa surgir uma cabeça de chapa única só aumentam.

A esquerda, com grande responsabilidade do PSOL, foi incapaz de nesta luta democrática conformar um pólo alternativo e de independência de classe que batalhasse com todas as forças contra a prisão de Lula e todos os ataques aos trabalhadores, mas sem ser funcional à estratégia eleitoral de Lula que somente quer pressionar a justiça e o STF para aumentar seu alcance eleitoral eventualmente transferindo-o para outros candidatos do PT ou para um novo cabeça-de-chapa que possa fagocitar o conjunto da esquerda.

Nós do MRT buscamos dar uma forte batalha nos locais onde estamos na primeira fileira do combate ao golpe institucional e ao avanço do bonapartismo judiciário que agora conta com o apoio descarado das Forças Armadas. Ao mesmo tempo enfrentando a criminosa linha das centrais sindicais de separar a luta política contra o golpe institucional da luta contra os ataques econômicos aos trabalhadores.

A CSP-Conlutas, central sindical dirigida majoritariamente pelo PSTU, definiu como eixo de sua política a consigna "prisão de todos os corruptos" apenas uma forma análoga ao "Fora Todos" para encobrir com palavreados supostamente radicais (supostamente porque se trata da mesma pauta do MBL e outros grupos da direita) sua política em defesa da prisão de Lula. No Sindicato dos Trabalhadores da USP, onde atuamos como minoria da direção do Sindicato e do Conselho Diretor de Base, através do Movimento Nossa Classe encabeçado pelo nosso camarada Marcello Pablito, referência na luta dos trabalhadores e dos negros, buscamos apoio em setores de base da categoria, com um manifesto expressando uma posição independente na luta contra a prisão de Lula e os ataques aos trabalhadores, e ganhamos esta posição na última reunião do Sintusp. Sendo assim, o Sintusp é o único sindicato da CSP-Conlutas em todo o país que não assumiu uma posição golpista frente ao avanço do judiciário.

No Metrô de São Paulo, o Movimento Nossa Classe Metroviários encabeçado pelo operador de trem Felipe Guarnieri reunirem 70 assinaturas de metroviários exigindo que o Sindicato dirigido majoritariamente pela CUT e pela CTB organizassem uma assembleia aonde os metroviários pudessem se posicionar contra a prisão arbitrária de Lula, de forma independente da estratégia petista e apontando a relação deste ataque com os ataques que os metroviários ainda sofrem, como a manutenção da demissão de 42 metroviários por parte da justiça. E estamos nos locais de trabalho e estudo em que atuamos em todo o país batalhando por essa política independente junto com o Movimento Nossa Classe, a juventude Faísca, o grupo de mulheres Pão e Rosas e o Quilombo Vermelho, agrupações que impulsionamos junto com companheiros e companheiras independentes. Em nossa opinião esta batalha nas estruturas, pra unificar os trabalhadores e organizar desde a base seria a tarefa elementar das centrais sindicais, que caso o tivessem feito poderiam frente a esta situação ter convocado uma medida elementar como uma paralisação nacional.

Em todos estes dias o Esquerda Diário buscou se alçar com esta posição independente, mantendo a exigência as centrais sindicais. Entretanto, comprova-se que o PT e a CUT não querem organizar uma luta de massas contra a prisão de Lula. Em primeiro lugar apontamos a desmoralização que construíram nos trabalhadores ao longo de 13 anos administrando o sistema capitalista brasileiro, assumindo os métodos da corrupção, iniciando um plano de ajustes e abrindo espaço pra direita. Em segundo lugar porque vieram de trégua frente aos principais ajustes do governo Temer, como a reforma trabalhista que é subproduto da traição das centrais sindicais que desorganizaram a paralisação nacional de 30 de junho de 2017. Mas também porque agora, o que predomina é a estratégia puramente eleitoral, vejamos só.

Hoje foi publicado no site da CUT o chamado "11 de abril: Dia Nacional de Luta em todo o Brasil em defesa de Lula Livre" a partir de reunião da Executiva Nacional do PT na última segunda-feira. Neste chamado dizem: "Eleger Lula significa resgatar a dignidade dos trabalhadores/as, restabelecer a democracia, devolver a soberania ao Brasil, reverter as privatizações, preservar nossas riquezas naturais e revogar a reforma trabalhista, que promove terceirização e a precarização generalizada das relações de trabalho, e a Emenda Constitucional 95 que congela o orçamento público e desmonta as políticas públicas no país".

E terminam dizendo "Somente Lula poderá reverter a atual situação política em que nos encontramos, como já demonstrou em seus dois governos, criando empregos, melhorando os salários e as condições de trabalho, revertendo a nefasta reforma trabalhista, tirando de pauta a reforma da previdência, voltando a desenvolver políticas de proteção social, recuperando o Pré-Sal para a nação, oferecendo educação e saúde de qualidade ao povo brasileiro".

Ou seja, ao fazerem o chamado assim se negam a unificar na base dos seus sindicatos os trabalhadores que concordam com a política do PT e aqueles que, mesmo sem concordar e mesmo sem votar em Lula, entendem que sua prisão é pra acelerar os ataques aos trabalhadores. Não à toa todo o eixo da mobilização é sobre a liberdade de Lula, e não também pela revogação da reforma trabalhista e todos os ataques anteriores. Isso é um grande impeditivo pra massificar a luta.

Mas, mais que isso, querem conduzir qualquer indignação popular à via eleitoral, já que o centro de sua argumentação é que "somente Lula" poderá reverter a atual situação em que vivemos. Para os trabalhadores é impotência e desmoralização. Lhes restaria, apenas, ser parte de uma campanha eleitoral pra supostamente deter a extrema-direita já que "somente Lula" poderá fazer isso. É por isso que os trabalhadores não "precisariam" lutar agora contra as reformas, querem transmitir a ideia utópica de que é possível frear os ataques com votos.

O que está ainda mais profundamente por trás desta política é uma completa mentira já que qualquer governo capitalista, mesmo que seja de centro-esquerda terá enormes dificuldades pra reverter o plano de ajustes que foi levado adiante pelo golpe institucional. Isso porque é uma ilusão completa considerar que é possível voltar aos anos áureos do lulismo onde as concessões precárias se mantinham somente porque o que lhes permitiu fazer isso sem atacar os lucros capitalistas era justamente a situação econômica favorável alentada pela economia internacional com a venda das commodities. Quando veio a crise econômica, esse "sonho" caiu por terra, não à toa o próprio PT teve que começar a implementar os planos de ajustes, num ritmo mais lento do que a burguesia nacional necessitava, por isso um golpe institucional.

Não somente pela situação econômica de crise internacional é impossível o PT cumprir as promessas de que Lula irá revogar todas as reformas, criar empregos e melhorar os salários, quanto pela política dos 13 anos de governo do PT onde este priorizou a subordinação ao capital financeira e ao imperialismo, ao manter, por exemplo o pagamento da dívida pública que é nada menos que 40% do orçamento público nacional. Porque algum trabalhador que viveu os 13 anos do PT acreditaria que agora Lula teria uma política diferente? Trata-se de pura demagogia eleitoral. Basta que vem que no dia anterior da prisão de Lula Dilma estava lançando sua campanha eleitoral em Minas Gerais ao lado de Fernando Pimentel, que havia acabado de reprimir a greve dos trabalhadores. Com tudo isso o PT quer transformar o Lula em um grande salvador dos trabalhadores, quando o que ele fez com o PT nestes 13 anos foi salvar os capitalistas e impedir que a classe trabalhadora se organizasse de forma efetiva, gerando desmoralização e impotência.

Entretanto, esta desmoralização e impotência não são condições eternas. Nós vimos as massas se levantarem nas jornadas de junho de 2013 contra as péssimas condições dos serviços públicos identificando o PT como parte de todo este sistema política. Nós vimos os trabalhadores se levantarem, aos milhões, contra a reforma da previdência na greve geral de 28 de abril de 2017.

Nós poderemos ver os trabalhadores se levantando novamente contra toda essa ordem repressiva que nos tirou Marielle e contra a intervenção federal no Rio de Janeiro, todo este avanço bonapartista do regime brasileiro com apoio dos generais do Exército e todo este avanço pra descarregar a crise nas costas dos trabalhadores e do povo pobre, onde certamente as mulheres e os negros sentirão duplamente esta carga. Ao contrário da estratégia do PT, é preciso acreditar na classe trabalhadora, pois a luta de classes é a única maneira de enfrentar estes ataques.

Criticar uma estratégia parlamentar nada tem a ver com deixar de atuar nos espaços eleitorais e parlamentares, a questão é a serviço do que estão estes postos. Na Argentina, a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, encabeçada pelo PTS, é o exemplo mais avançado de como é possível utilizar as bancadas eleitorais a serviço de potencializar a luta de classes dos trabalhadores com um programa anticapitalista e revolucionário. Isso se expressou fortemente nas batalhas contra a reforma da previdência no final do ano passado e nas lutas que seguem em curso neste país contra a agenda de ajuste macrista.

Por isso, neste momento, é fundamental que a esquerda, ao contrário do que faz agora, possa ser uma verdadeira alternativa. Tirar as profundas lições desta situação atual e da estratégia impotente do PT é um pressuposto fundamental pra construir uma organização revolucionária. Romper com o Manifesto "Unidade para Reconstruir o Brasil" também seria algo elementar. Não é necessário constituir nenhuma frente política com estes partidos, é preciso mobilizar os sindicatos e locais de trabalho pra colocar de pé e mais ampla unidade de ação pela base.

A questão é se nos momentos decisivos, ao contrário de impotência e desmoralização, haverá uma alternativa. A nossa política, de construir fortes frações revolucionárias no movimento operário e na juventude, está a serviço de nos preparar para estes momentos da luta de classes, batalhando também pra convencer os trabalhadores que estrategicamente sua energia não pode ser conduzida apenas ao voto eleitoral, mas sim deve ser conduzida a construção de um projeto político apaixonante pra transformar essa sociedade pela raiz e por isso é necessário lutar por uma estratégia e um programa anticapitalistas e revolucionários aonde sejam os trabalhadores que realmente governem em base aos seus organismos democráticos pra destruir o capitalismo e abrir espaço a uma nova sociedade.




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