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Alguns apontamentos sobre os marxistas e a questão judaica

Guillermo Iturbide

Alguns apontamentos sobre os marxistas e a questão judaica

Guillermo Iturbide

O marxismo, longe de qualquer suposto ’economicismo reducionista’, tem uma longa história de dar uma explicação das formas como a luta de classes se expressa das maneiras mais intrincadas e sinuosas possíveis, como, por exemplo, os problemas de opressão nacional e religiosa. Ou seja, ao contrário do senso comum que vê de forma idealista os problemas de opressão nacional e religiosa, o marxismo possui os recursos para explicar de maneira convincente suas raízes materiais.

I. Religião, nação ou ’problema judaico’?

Comecemos pelo que parece ser a resposta. Os judeus surgem a partir de uma comunidade religiosa. No contexto do desenvolvimento dos Estados na era moderna na Europa e do estabelecimento do cristianismo como religião oficial, desenvolvem-se formas de discriminação e opressão contra os judeus por professarem sua religião, isolando-os em áreas específicas e, em muitos casos, impedindo-os de trabalhar ou exercer profissões. Assim nasce o antissemitismo. Essa marginalização desenvolve uma forma de ’alteridade’, especialmente a partir do final do século XVIII e início do século XIX em um setor dos judeus, os da Europa Central e Oriental, onde adquirem algumas características ’nacionais’. As guerras mundiais e o desenvolvimento do fascismo e da contrarrevolução exacerbaram o antissemitismo e levaram ao Holocausto e, posteriormente, à fundação do Estado de Israel, baseado por sua vez na expropriação e limpeza étnica dos palestinos.Longe de resolver o complexo ’problema judaico’, isso o agravou até os dias de hoje.

Mas há outra resposta à pergunta do subtítulo que é hegemônica hoje, a qual é dada pelo sionismo. É uma resposta mistificadora, idealista. Os judeus seriam um povo-nação que persistiu ao longo dos séculos, que foi expulso cerca de 2000 anos atrás a partir da destruição do Templo de Jerusalém. Então, tratar-se-ia de uma nação que se dispersou e terminou na diáspora, mas que sempre teria continuado sendo uma nação, a qual, apesar de não cumprir com o que se consideravam os critérios de ter formado uma comunidade cultural, territorial e idiomática, teria uma capacidade de resistência muito notável, o que levou à sua reconstituição no século XX.

II. De onde surgiu o antissemitismo?

A opressão aos judeus e o antissemitismo moderno estão relacionados ao surgimento da forma de organização política dos Estados-nação na Europa. O sionismo tenta apresentar o antissemitismo como uma forma de ódio milenar e, de acordo com seus interesses atuais ligados à defesa do Estado de Israel, enfatiza particularmente um ódio histórico aos judeus por parte dos povos árabes e da fé muçulmana, mas não é assim. Por exemplo, em Al-Andalus, a Espanha sob domínio muçulmano que abrange o período desde o início do século VIII até a queda do último bastião em Granada, em 1492, os judeus não apenas conviveram com árabes e cristãos, mas também floresceu uma filosofia e um pensamento próprio. Foi a chamada "Reconquista" cristã, que unificou os reinos de Castela e Aragão em uma única entidade política como um Estado católico, que expulsou, perseguiu e matou tanto muçulmanos quanto judeus, obrigando estes últimos a buscar refúgio precisamente em outras áreas sob domínio muçulmano, como o norte da África ou os Bálcãs, dando origem à comunidade sefardita, judeus que ainda hoje, em lugares como Bósnia, Grécia ou Turquia, continuam a falar uma língua chamada ladino, que consiste em uma evolução do castelhano medieval que seus antepassados falavam na península ibérica.

No século XIX, também foram discutidos os critérios de atribuição de (limitados) direitos políticos na Europa, onde em Estados como a Prússia, o protestantismo era a religião do Estado. Por outro lado, no Império Russo, os judeus eram duramente oprimidos. A czarina Catarina, a Grande, tentou aplicar uma solução "à espanhola", buscando expulsar os judeus que não renunciassem às suas crenças para se converterem à fé cristã ortodoxa, religião estatal. Ao não conseguir, recorreu no final do século XVIII à criação de uma "Zona de Assentamento", uma região que abrangia grande parte das atuais Ucrânia, Lituânia e Polônia, a fronteira ocidental do Império Russo, onde todos os judeus deveriam viver e não podiam sair. Dessa forma, um setor dos judeus, que constituíam uma religião e estavam dispersos em diferentes cidades sem ter previamente qualquer relação com algum território em particular, foram adquirindo alguns traços de "nação", muito tardiamente e pela força da judeofobia impulsionada pelo Estado russo.

Os judeus do Império Russo pertenciam principalmente à comunidade asquenaze. Esta se estendia desde a fronteira ocidental da França, passando pela Alemanha, pelo antigo Império Austro-Húngaro até a Rússia. Particularmente nesta última, devido ao seu isolamento forçado e à impossibilidade de integração com a população dominante, foi onde mais se desenvolveu uma língua vernácula própria, embora proibida, o ídiche, uma língua de raiz germânica derivada dos dialetos medievais do alto alemão e muito relacionada com o alemão padrão atual, embora com um vocabulário numeroso de origem hebraica e eslava. Este desenvolvimento de uma língua própria, somado à enraização em um determinado território, constituiu esses traços muito tardios de "nação" dos judeus asquenazes. Esta transição deste setor dos judeus, de uma comunidade religiosa para uma espécie de comunidade nacional sui generis, juntamente com as novas ideias da Ilustração que combatiam a religião e opunham esta ao pensamento científico, abriram caminho para o desenvolvimento entre os judeus asquenazes de uma espécie de "Ilustração judaica" (a Haskalá), na qual avançavam na construção de uma identidade cultural própria, não necessariamente religiosa."

III. Emancipação dos judeus, assimilação, ’autodeterminação nacional’?

É nesse contexto que surgiram correntes de pensamento emancipadoras diante da opressão política, que não se contentavam com a vida restrita da aldeia judaica, o shtetl, e da religião, e que não toleravam de braços cruzados os pogroms e massacres incitados pelo czarismo. As comunidades judaicas, por sua vez, se diferenciaram socialmente internamente e desenvolveram classes nitidamente opostas, dando origem tanto à burguesia quanto ao proletariado judeu, bem como camadas intermediárias. O "problema judaico" atingiu assim o seu ponto máximo de tensão, assim como desenvolveu suas possibilidades teóricas de resolução.

Não por acaso, um jovem Karl Marx desenvolveu sua transição ideológica da crítica à esquerda hegeliana para o comunismo, intervindo no debate sobre a questão judaica na Prússia. Bruno Bauer, em uma intervenção em 1843, argumentava que a solução para a emancipação judaica consistia em que essa comunidade abandonasse sua religião e seu particularismo em relação ao restante da sociedade, já que a emancipação política pressuporia um Estado laico. Em sua polêmica com ele, Marx argumentava que o laicismo estatal não era incompatível com a existência da religião no âmbito privado, como demonstrava o caso dos EUA, onde todo tipo de seitas religiosas prosperavam em meio a um Estado que não professava oficialmente nenhuma religião. A religião possui raízes materiais profundas, não é uma ideia que se dissipa no ar apenas com a oposição de argumentos iluminados e a criação de um Estado laico. Marx, contra Bauer, afirmava a necessidade dos direitos políticos para os judeus sem que isso implicasse necessariamente o abandono de sua religião, porque, em todo caso, a emancipação política não era o último estágio possível da emancipação humana. A única forma de pôr fim à religião em geral era acabar com suas bases materiais, para o que era necessário um tipo superior de emancipação social. Alguns anos mais tarde, Marx avançaria no desenvolvimento de sua visão da emancipação social no sentido do comunismo. Sendo um judeu assimilado originário de uma família de rabinos convertida ao protestantismo, ele não desenvolveria muito mais sobre a questão judaica [1], mas, no entanto, o marxismo ganharia terreno enormemente entre os judeus a partir dessa ideia de união da libertação da opressão religiosa e seminacional com a libertação de toda a sociedade por meio do comunismo a partir da revolução proletária.

O marxismo e o movimento operário socialista, no entanto, não tiveram uma compreensão uniforme e homogênea de como "resolver" o problema judaico. No pensamento inicial da Segunda Internacional, Karl Kautsky tinha a concepção de que a Europa avançava em direção a um modelo em que as "pequenas nações" naturalmente desapareceriam, se dissolvendo nas "grandes nações culturais", com a nação alemã na Europa Central como modelo, a fim de homogeneizar a paisagem linguística e cultural e assim favorecer a unificação em grandes unidades políticas contra a fragmentação e o particularismo, o que seria um pré-requisito para uma sociedade comunista mundial. Ou seja, a paradoxalidade das teses de Kautsky era que, em sua ideia de socialismo, a libertação da opressão nacional implicava a extinção de grande parte das nações oprimidas, uma perspectiva pouco atraente para muitos. Os judeus estariam incluídos entre essas nações destinadas a desaparecer mediante a assimilação, abandonando sua particularidade. Para Kautsky, essas eram tendências progressivas que já estavam ocorrendo como resultado do desenvolvimento capitalista. Otto Bauer, principal dirigente da social-democracia austríaca (e ele próprio judeu), tinha uma posição semelhante à de Kautsky, embora ligada à sua concepção de "autonomia cultural nacional" para as diferentes nações que então compunham a Áustria (não era assim em relação a parte húngara do Império, também plurinacional, mas cujo partido social-democrata tinha um critério diferente, oposto à autonomia). No entanto, Bauer negava aos judeus austríacos a autonomia cultural nacional por não se enquadrarem no critério padrão da social-democracia de definir a nação pela ancoragem territorial. O problema dessas visões era que, além disso, implicavam uma certa aceitação dos Estados nacionais existentes, uma das características do desenvolvimento da corrente principal da social-democracia desde seus primeiros anos, o que a levaria a unir seus destinos aos desses Estados e, posteriormente, à sua capitulação na Primeira Guerra Mundial.

Além disso, o "problema judaico" havia se tornado uma questão particular que não podia ser completamente enquadrada nem na questão religiosa nem na nacional, porque embora incluísse a primeira, os judeus, principalmente na Europa Oriental, haviam desenvolvido recentemente certas características culturais que transcendiam a identificação religiosa. Por outro lado, por mais forte que fosse a tendência à assimilação entre alguns setores dos judeus, o antissemitismo persistia. Se os Estados capitalistas pressupunham basear-se em uma comunidade nacional, os judeus sempre eram suspeitos de viver nos interstícios dessa sociedade, sem pátria, sem fazer parte da cultura hegemônica e, pelo contrário, ligados a uma comunidade supranacional que não reconhecia fronteiras, mas ao mesmo tempo se presumia hermética.

Nesse contexto, como uma corrente surgida e ao mesmo tempo contraposta à "Ilustração judaica", surgiu no final do século XIX o movimento sionista, fundado em torno do jornalista e ativista austro-húngaro Theodor Herzl (1860-1904). Concebido como uma maneira de resolver o "problema judaico", o sionismo decidiu fazê-lo transformando decisivamente os judeus, de sua situação ambígua entre historicamente religiosa e apenas recentemente semi-nacional, em uma nação plenamente constituída. O sionismo se opunha à assimilação e/ou integração dos judeus nas grandes "nações culturais" europeias e propunha um caminho particular de emancipação: estabelecer um "Estado judeu", uma ideia completamente moderna e alheia à tradição judaica. Dessa forma, os judeus poderiam ser considerados uma nação "normal" ligada a um espaço territorial e a uma entidade política própria. Assim, começaram as primeiras viagens e estabelecimentos de judeus europeus asquenazes na Palestina, e os primeiros conflitos com a população árabe. [2]

Restava resolver um aspecto da identidade judaica como "nação": ter uma língua própria. Os sionistas descartaram e combateram o uso do iídiche e das outras línguas vernáculas dos judeus, como o ladino ou o árabe. Foi então que promoveram a ressurreição do idioma hebraico, uma língua clássica que havia deixado de ter falantes nativos por volta do século III a.C. O hebraico só era preservado havia cerca de 2200 anos como uma língua usada exclusivamente em contextos religiosos. Foi um linguista de origem russa, Eliezer Ben Yehuda, que iniciou a tentativa de restabelecer o hebraico como uma língua viva e, ao mesmo tempo, atualizá-la para o contexto da vida moderna. É desse movimento que o hebraico, hoje a língua oficial do Estado de Israel, utilizada diariamente por 9 milhões de pessoas, ressurgiu após dois milênios. Por meio desse caminho, o sionismo buscou estabelecer uma nova tradição oposta à experiência histórica dos judeus: ao judeu pária, perseguido, fraco, com sua cultura desarraigada e diaspórica marginal, opôs-se o novo judeu sionista, nacionalista, forte e dominante. Parte da narrativa da atual direita sionista se completou com a ideia de que a Palestina, antes da colonização, era um lugar semidesértico, algo muito distante da realidade. Como relata o historiador israelense Ilan Pappé, as cidades israelenses atuais se erguem sobre os escombros das antigas vilas palestinas, das quais nem mesmo seus nomes restam. Mesmo as correntes sionistas de esquerda que existiam na Palestina sob o mandato britânico, antes de 1948, esbarraram em seus próprios limites na medida em que as tentativas de convivência entre árabes e judeus também eram desfeitas pela política das potências coloniais, que alternadamente apoiava uns ou outros para fomentar divisões, apesar das atividades das pequenas primeiras organizações comunistas palestinas, binacionais e antissionistas, que incluíam tanto árabes quanto judeus.

IV. Uma luta pela hegemonia entre os judeus: marxismo ou sionismo

Retornando ao marxismo, este logo se viu confrontado com o movimento sionista. No final do século XIX e início do século XX, sionismo e socialismo revolucionário disputavam a hegemonia entre os judeus na Europa, com o segundo tendo uma vantagem considerável sobre o primeiro, até o momento do Holocausto. Como exemplo, conforme relata o historiador Hernán Camarero em seu livro "Em Busca da Classe Trabalhadora: Os Comunistas e o Mundo do Trabalho na Argentina, 1920-1935" (2007), o Partido Comunista argentino nos primeiros anos tinha uma forte presença entre as comunidades operárias imigrantes e publicava jornais nos diferentes idiomas dessas comunidades nacionais. Apesar de não ser a comunidade imigrante mais numerosa na Argentina, é notável que o jornal em ídiche do Partido Comunista tinha a maior circulação, superando, por exemplo, a publicação em italiano, dada a grande inserção dos comunistas no movimento operário judeu de origem do leste europeu e seu papel de vanguarda nas lutas da classe trabalhadora local. Camarero conta em seu livro como a comunidade operária judaica de esquerda, especialmente a comunista, combatia vigorosamente o sionismo como uma ideologia reacionária de conciliação de classes e opressora, chegando inclusive a confrontos físicos, dada a ligação dos sionistas com a burguesia em geral e com os patrões judeus em particular, ao mesmo tempo em que rejeitavam a identificação religiosa e mantinham sua identidade ligada ao ídiche em vez de promover o hebraico como faziam os sionistas. Essa atitude mudaria radicalmente posteriormente, quando o estalinismo, já consolidado no partido e seguindo as orientações de Moscou, passou a apoiar a criação do Estado de Israel em 1948.

Mas os marxistas também desenvolveram respostas para o problema judaico que foram mais complexas do que a abordagem de Kautsky e da Segunda Internacional. Em geral, os principais marxistas da ala esquerda da Segunda Internacional ligados ao Império Russo, como Lênin, Trótski e Rosa Luxemburgo, compartilharam a maior parte do tempo uma rejeição à ideia de que os judeus constituíam uma nação no sentido de comunidade territorial e linguística, e se opuseram completamente ao sionismo, que tinha raízes muito menos na tradição hebraica do que na corrente dominante do pensamento europeu. Na Rússia, Lênin às vezes considerava os judeus como "a nação mais oprimida e perseguida" do Império. Isso apenas refletia a realidade de que a Rússia classificava oficialmente todos os seus habitantes de acordo com suas diferentes "natsionalnosti" ("nacionalidades"), e para o Estado russo, os judeus eram uma delas, assim como os armênios, georgianos, poloneses, assim como também a nacionalidade dominante, os russos. Tanto Lênin quanto Trótski e Rosa Luxemburgo combateram o antissemitismo e os pogroms. Rosa Luxemburgo, ao contrário de Lênin e Trotsky, era em geral contrária a qualquer ideia de autodeterminação nacional (exceto no caso específico das nações oprimidas no Império Otomano, por considerar a separação delas como um requisito fundamental para o desenvolvimento capitalista na região), no entanto, considerava as nações oprimidas como comunidades culturais que deveriam ser preservadas e defendidas, como afirmou especificamente em relação aos poloneses. No caso dos judeus, vindo ela mesma de um lar judeu assimilado e com um repúdio visceral ao que considerava a cultura atrasada da aldeia judaica, ela promovia a assimilação. Luxemburgo considerava a autodeterminação nacional impraticável no contexto do capitalismo, pois este tende a subjugar os pequenos Estados, mas pensava que somente o socialismo permitiria o verdadeiro florescimento das comunidades nacionais como entidades culturais. Trótski compartilhava o quadro geral do pensamento de Lênin sobre o assunto, embora, como Mario Kessler conta, na segunda metade da década de 1930, diante do avanço do nazismo e do antissemitismo, ele tenha chegado a ter dúvidas se os judeus não poderiam se tornar uma nação. De qualquer forma, ele continuou a rejeitar claramente como reacionária a solução sionista, que ele considerava que, em nome do "direito nacional", poderia suprimir os direitos dos palestinos e avançar sobre suas terras. Trótski não viveu para ver o Estado de Israel, mas acreditava que o sionismo implicava um agravamento trágico do problema judaico por meio dos conflitos com os árabes e da aliança com as grandes potências capitalistas dominantes.

V. Israel: solução para o problema judaico ou parte do problema?

Finalmente, com a fundação do Estado de Israel e a limpeza étnica [3] contra os palestinos, o "problema judaico", que parecia para muitos, no início do século XX, estar próximo de uma solução com a adesão à militância socialista e à luta internacionalista pela revolução mundial por parte de grandes setores da comunidade judaica, apenas se agravou de forma fatal e deu enormes passos para trás com o fascismo, a guerra e o Holocausto. A criação do Estado de Israel nunca teve como premissa uma solução progressiva para o problema judaico. O sionismo foi um movimento que pode ser comparado com a colonização europeia de outros continentes (e que, de fato, também teve origem na Europa), o que agravou o problema ao criar um nacionalismo agressivo, misturado com as manobras das grandes potências após a guerra, por meio da expropriação dos palestinos, os habitantes que viveram nessas terras de forma contínua por milênios. Um único Estado palestino, democrático, secular e socialista que integre árabes e judeus sem opressão nacional de nenhum tipo, dentro do contexto de uma federação de repúblicas socialistas do Oriente Médio, seria o único caminho para uma paz verdadeira, com base no pleno desenvolvimento nacional igualitário, bem como uma contribuição imensa para resolver o "problema judaico" e acabar com o antissemitismo.

[Pequena bibliografia marxista sobre o problema judaico]:

Abraham Léon: "Concepção Materialista da Questão Judaica"
Isaac Deutscher: "O Não Judeu Judeu"
Enzo Traverso: "A Questão Judaica" / "El final de la modernidad judía"
Maxime Rodinson: "Povo Judaico ou Problema Judaico?"


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FOOTNOTES

[1Não podemos desenvolver o tema aqui, mas fica registrado que foi assim, além de algumas referências ocasionais ao judeu religioso como o Geldmensch, onde equipara o espírito da religião judaica ao da acumulação capitalista. O mesmo ocorre com Engels e sua inclusão dos judeus em sua categoria de "povos sem história", com a qual se referia, no contexto das revoluções na Alemanha e Europa Central de 1848, a aquelas nações cuja emancipação nacional não representava um passo no sentido da revolução burguesa (como, ao contrário, o companheiro de Marx considerava ser o caso, por exemplo, com os poloneses, pois sua libertação e constituição como Estado nacional era uma tarefa revolucionária que contribuía para derrubar a autocracia czarista, o grande gendarme da reação europeia). É preciso dizer também que Engels foi o primeiro a escrever artigos sobre como combater o antissemitismo.

[2O sionismo, especialmente em seus primórdios, teve correntes que também se identificavam como socialistas e buscavam um acordo com os árabes. Para obter mais informações sobre esse assunto, pode-se consultar, por exemplo, Nathaniel Flakin em Martin Monath. Un trotskista judío entre soldados nazis (Buenos Aires, Edições IPS-CEIP, 2022), onde é narrada a trajetória de Martin Monath, um jovem judeu alemão militante do Hashomer Hatzair, que migrou do sionismo de esquerda para o trotskismo às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Com a fundação do Estado de Israel, setores desses antigos sionistas de esquerda ficaram desiludidos e romperam diante da orientação agressivamente nacionalista, belicista e elitista. Um exemplo notável é o caso de Hannah Arendt, que chegou a ser acusada de... nazista por esse motivo.

[3Ver Ilan Pappé, "A limpeza étnica na Palestina."
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