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ELEIÇÕES ARGENTINAS | Algumas conclusões do "nocaute" em Mendoza

Uma primeira leitura da grande eleição de Nicolas del Caño e a Frente de Esquerda no último domingo em Mendoza (Argentina).

segunda-feira 4 de maio de 2015 | 22:30

Os jornais de domingo haviam publicado informação sobre as polêmicas e as mudanças de estratégia que estavam sendo discutidas dentro do Frente para La Victoria depois da derrota na Cidade de Buenos Aires. O fracasso da tática de apresentar varias listas internas nas primárias (na Capital foram sete!) estava levando a conclusão de que era necessário concentrar em uma candidatura única (duas como muito). A eleição na capital de Mendoza volta a colocar em questão todos estes interrogantes.

O Frente para la Victoria, com quatro candidaturas havia conseguido colocar se como segunda força nas primárias de fevereiro, com 17.71%. Nesta eleição se impôs o peronismo moderado "sciolista" representado pela candidatura de Carlos Aranda (9%). A candidatura do "kirchnerismo puro" de Pinty Saba conseguiu somente 5.38% dos votos.

Nas gerais que aconteceram no último domingo, o FpV com Aranda a frente retrocedeu quase 3 pontos e chegou aos 14,68%, caindo para o terceiro lugar.

Das eleições da Capital Autônoma de Buenos Aires (CABA) e Mendoza se desprende uma conclusão que pode se generalizar: se optam por uma candidatura do "kirchnerismo puro" retrocedem até os níveis mais baixos obtidos pelo peronismo na historia (CABA). Se optam por um peronismo "moderado", não conseguem manter o conjunto dos apoios kirchneristas. As primarias com várias candidaturas podem representar uma ilusão de ótica como é o caso de Mendoza (em CABA se apresentaram todos candidatos do mesmo perfil). Nas primárias podem manter os votos da força de conjunto,mas nas gerais não conseguem mantê-los quando esta a frente um candidato de perfil claro.

O problema de fundo é que se deteriora a coalizão oficial. Até o momento se mantém unida sob a condução bonapartista de Cristina Fernandez que não tem continuidade nem possibilidade de reeleição. Estas são expressões mais ou menos distorcidas da transição de uma coalizão que está passando de "partido de contenção" a "partido da ordem" (dando por sentado que ambos contem elementos de seu contrário).

A Frente de Esquerda com a candidatura de Nicolás Del Caño cresceu quase a mesma quantidade de votos que perdeu o Frente para la Victoria, o que não quer dizer necessariamente que todos os apoios ganhados venham daí, mesmo que uma parte significativa sim (outras podem vir de listas de esquerda que não passaram as primárias).

A Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT) se constituiu (com desigualdades) em uma força com capacidade de disputa daquelas pessoas que com aspirações progressistas apoiaram o Frente para la Victoria e genuinamente acreditaram em algumas bandeiras levantadas durante todos estes anos.

A necessidade do desvio e o apaziguamento logo depois da crise do ano 2001 impôs uma mudança que implicou levantar demandas e um discurso que o kirchnerismo não é capaz de sustentar quando se esgotam as condições econômicas e políticas que possibilitaram as manobras.

Por outro lado, Mendoza volta a desmentir a tese de que os apoios a FIT veem da crise do histórico "espaço de representação radical" (geralmente de classe média) e que não afetava as bases diretamente peronistas. Nesta eleição, o radicalismo se coloca quase com 60% dos votos e a FIT consegue o 17%.

Portanto, parte da Mendoza profunda dos trabalhadores e da juventude precarizada, encontra na FIT e em Del Caño (assim como em outros candidatxs) uma representação que esta configurando uma nova identidade política ligada a esquerda classista, com a crise histórica e conjuntural do peronismo. Os zigzags do kirchnerismo não permitiram recuperar uma identidade peronista nas novas gerações nem foram suficientes para criar uma identidade qualitativamente nova. A consequência de sua própria amalgama que foi desde "Nacional & Popular" a tardia restauração em mãos do peronismo tradicional.

Por último, a nocauteada de Nicolás Del Caño gravita sobre a Frente de Esquerda nacional. O potencial de "elegibilidade" revalidado e ampliado nesta eleição cujo resultado teve repercussão nacional imediatamente (derrotar o peronismo em uma eleição executiva na capital do quinto distrito eleitoral do país não é coisa que acontece todos os dias); re-legitima o que alguns consideraram uma ousadia: sua apresentação como pré-candidato presidencial com sobradas credenciais para a batalha que tem proposto a FIT daqui a Agosto e Outubro de 2015.




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