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ELEIÇÕES 2024 | A falsa independência política do MES/PSOL e o vale-tudo eleitoral em Porto Alegre

O Movimento Esquerda Socialista, corrente interna do PSOL do qual fazem parte parlamentares como Fernanda Melchionna, Luciana Genro, Roberto Robaina, Sâmia Bomfim e outros, desde o início do governo Lula-Alckmin declara sua independência política em distintas oportunidades. Para as eleições de 2024 em Porto Alegre, no entanto, suas figuras seguem empenhadas na construção de uma frente amplíssima, inclusive com a direita e um antigo representante da burguesia da cidade que hoje está no reacionário União Brasil, buscando unidade com o PT e seu arco de nefastas alianças, se propondo, na prática, à total diluição em mais um arranjo político de conciliação de classes.

terça-feira 6 de fevereiro | Edição do dia

Foto: Débora Fogliatto / Divulgação

Desde a eleição de 2022 e ao longo do primeiro ano de governo Lula-Alckmin, o MES, através de seus parlamentares e figuras, vem insistindo na possibilidade de resguardar a independência política em relação ao governo Lula-Alckmin mesmo estando dentro do PSOL, um partido que compõe o governo. Fato confirmado por Roberto Robaina em mesa de debate do dia 23/08/2023, a adesão do PSOL ao governo, sendo hoje vizinho de ministério de partidos como Republicanos e PP, é um salto de qualidade em sua adaptação e integração ao degradado regime político capitalista brasileiro.

Assim, o PSOL cumpre hoje o papel de cobrir pela esquerda a política do PT, que é de alianças e acordos com a direita e inclusive com a extrema direita para gerir e manter intacta a herança bolsonarista de reformas, privatizações, cortes de orçamento, inclusive apresentando novos ataques, como o arcabouço fiscal, e novos cortes, além de ter aprovado um orçamento ao gosto do agronegócio, mantendo também os privilégios orçamentários das Forças Armadas.

Qualquer organização que se diz socialista e mesmo trotskista, como o MES, deveria saber que é preciso independência política para enfrentar esse projeto de país, combatendo a conciliação e alertando que é isso que abre espaço à extrema direita. No mesmo debate já mencionado, contraditoriamente, Robaina também afirmou que o MES estaria no PSOL supostamente para “disputar o partido à esquerda”, o que não se sustenta na realidade, sobretudo no local do país que o MES tem mais peso, que é o Rio Grande do Sul. A fotografia de Roberto Robaina e Luciana Genro ao lado da pré-candidata do PT à prefeitura Maria do Rosário e do político de direita e ex-prefeito da cidade José Fortunatti, do União Brasil (!) é um símbolo da política do MES, que embora encabece a pré-candidatura do PSOL à prefeitura, negocia a unidade até mesmo com a direita tradicional na cidade.

A experiência gaúcha mostra, portanto, que o caminho escolhido pelo MES é integrar essa política do PT. Ainda que, às vezes critiquem o lulismo acrítico da Resistência, com polêmicas que atravessaram seu Congresso partidário, assim como também critiquem a linha da majoritária, o MES mostra a realidade de sua política se encaminhando ao vale-tudo eleitoral rumo às eleições de Porto Alegre. O discurso de independência e qualquer crítica ao governo ou à adaptação de seu partido ao PT se desmancham no ar.

Essa posição do MES, entusiasta da frente ampla, torna-se ainda mais escandalosa com seu apoio à pré-candidatura de Boulos e Marta Suplicy, em São Paulo, justificando que é necessário a mais ampla unidade contra o bolsonarista Ricardo Nunes. Para isso, vão apoiar uma candidatura que conta com uma figura que articulou a reforma trabalhista, articulou o golpe de 2016 e que, até mês passado, ocupava a Secretaria de Relações Internacionais do próprio Nunes. Agora, de uma hora para outra, teria virado suposta baluarte da democracia. A decisão do MES de apoiar a prefeitura de São Paulo como “vale-tudo” junto com empresários confirma sua entrega a uma política de conciliação de classes.

Em Porto Alegre, vale se perguntar: como resolver os problemas mais sentidos pela maioria da população porto-alegrense junto da burguesia da cidade? Fortunati, quando foi prefeito e tinha Sebastião Melo como vice, foi um dos grandes responsáveis por sucatear a Carris e repassar suas linhas mais superavitárias para as empresas privadas, pavimentando o caminho para a privatização. É impossível lutar pela reversão da privatização da Carris junto de Fortunati e da direita. Como lutar contra as barbaridades que a Melnick vem fazendo na cidade, junto de um grande aliado das grandes empreiteiras, como foi a prefeitura de Fortunati? Como lutar em defesa dos serviços públicos junto do Fortunati, inimigo dos servidores municipais? Esses são apenas alguns exemplos de como questões basilares que deveriam nortear um programa em defesa dos trabalhadores e da maioria da população vão na contramão da frente ampla que o MES vem costurando com a direita e o PT.

Uma retrospectiva do caminho que os trouxe até aqui ajuda a explicar por que o lançamento de uma pré-candidatura não aponta um caminho oposto a isso, inclusive cumpre o papel de buscar melhores condições de negociação neste sentido. Desde o ano passado o MES é linha de frente na construção do mais amplo arco de alianças rumo às eleições. Quando falamos de um amplo arco, se trata realmente de incluir inimigos declarados da classe trabalhadora e do povo dentre seus possíveis aliados eleitorais, seguindo justamente o caminho trilhado pelo PT, que tem como desfecho o fortalecimento desses setores e manutenção de seus ataques.

Quem se decepcionou com a foto que ilustra esta matéria, deve ser lembrado de que no contexto das negociações em torno da formação de uma chapa eleitoral para 2024, ainda que sem muito alarde, o MES [já vinha participando de atividades do chamado "Movimento Pró-Frente Ampla". Naquele então, já ao lado do PCdoB, PT, PDT, REDE e sob a liderança do próprio José Fortunatti, do reacionário União Brasil e responsável também por cenas marcantes de repressão contra a juventude e os trabalhadores da cidade durante os protestos de 2013 e também durante a forte greve de rodoviários de 2014 além de também ter atacado a Carris. O União Brasil, além de contar com um ministério no governo Lula-Alckmin, é a fusão do DEM e do PSL, presidido por Luciano Bivar, e conta com figuras asquerosas como ACM Neto, o bolsonarista Wagner Gomes, a lavajatista Soraya Thronicke, o neoliberal Rodrigo Maia e outras figuras de direita. Seria possível "desbolsonarizar" a cidade de Porto Alegre tendo como aliados setores do próprio bolsonarismo? Seria possível resguardar alguma independência política estando lado a lado com inimigos do povo como ele? Evidentemente, não.

Mas o vale-tudo eleitoral e o fisiologismo do MES não são exatamente uma novidade. Dentre as correntes do PSOL, foi das mais entusiastas em relação à federação com a REDE, um partido também burguês e antiaborto ao qual o PSOL está atrelado até, pelo menos, 2026. Vale lembrar que candidaturas do MES já receberam doações eleitorais de empresas como Taurus, Zaffari, Panvel, etc… Para além disso, a adaptação ao PT também vai a galope: neste mesmo contextos de negociações em torno de um nome para concorrer à prefeitura de Porto Alegre, chegou a propor Olívio Dutra, o que o próprio Olívio rejeitou, enquanto o PCdoB propôs Manuela D’Ávila, que também negou. Em meio a essa discussão a posição expressa por Roberto Robaina em entrevista ao Sindibancários foi de que deveria se tratar de um nome com "densidade eleitoral" e "entrada no trabalhismo", abrindo mão, desde já, de apresentar uma candidatura com independência de classe e um programa anticapitalista.

Alguns meses nos separam das eleições municipais desse ano, mas desde já é possível afirmar que será um momento importante do país, que no caso do MES trará à tona aquilo que tentam encobrir com falas em defesa de uma suposta independência e até com o lançamento da pré-candidatura do PSOL: sua adesão ao frente amplismo na prática.

Com essa política, o MES reafirma sua ruptura com qualquer perspectiva socialista e as imagens de Trotski, Rosa Luxemburgo e outros revolucionários que essa organização utiliza em camisetas e estandartes, são, cada vez mais, meras imagens. As imagens reais de sua atuação correspondem a uma organização cada vez mais integrada ao degradado regime político brasileiro, aderindo à frente ampla junto ao PT e aos capitalistas.




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