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Combate à extrema-direita | “A Argentina aponta o caminho!”, afirma Marcella Campos professora de SP

Veja declaração de Marcella Campos, professora de São Paulo e membra da secretaria nacional executiva da CSP Conlutas e também da oposição da APEOESP, que esteve como correspondente do Esquerda Diário na Argentina e vê lições importantes do processo no país vizinho para os desafios da classe trabalhadora e da juventude no Brasil hoje.

quinta-feira 8 de fevereiro | Edição do dia

“Desde a recente eleição do reacionário Milei na Argentina há 2 meses atrás, nossos olhos estão voltados para o país vizinho. Nas últimas semanas, e em particular ontem, mais do que nunca. Depois de semanas de mobilização nas ruas contra uma repressão brutal e de muito enfrentamento da esquerda dentro do parlamento, a Lei Ônibus - um dos grandes ataques neoliberais do governo - retrocedeu. Uma importante derrota do governo de Milei, Caputo e Bullrich; uma importante vitória das ruas e um forte exemplo de como enfrentar a extrema direita e os ataques aqui no Brasil e no mundo.

Longe de benfeitorias do Congresso, essa derrota política para Milei foi construída com muita luta dentro e fora do parlamento. Do lado de fora, a paralisação nacional do dia 24 de janeiro cumpriu um papel importante para a derrota da Lei Ônibus, apesar dos limites impostos pela CGT, que em todos os dias seguintes de manifestação sequer apareceu. Quem se fez ouvir foram as colunas das assembleias de bairro que vieram se coordenando desde o último 20 de dezembro, junto da esquerda, do Unidos Pela Cultura e de movimentos sociais e sindicais combativos que não arredaram o pé das ruas. Foram 3 dias consecutivos de manifestações enquanto a lei era discutida no parlamento, com o PTS (partido irmão do MRT na Argentina que encabeça a FIT), as assembleias de bairro e o Unidos Pela Cultura disputando as ruas contra a polícia, os fiéis “protetores da casta”, como gritavam os manifestantes. Sob balas de borracha, bombas, cassetetes e gás de pimenta, não teve protocolo Bullrich que impediu a juventude e os trabalhadores de expressarem sua indignação. A força das ruas, auto-organizada por baixo em particular nas assembleias de bairro, se fez sentir e aponta um potencial importante pra seguir o combate e derrotar também o DNU, se conectando aos locais de trabalho e a todos setores oprimidos para dar um golpe de morte nos planos do FMI.

Do lado de dentro, a batalha não foi menor. No Congresso argentino existe uma particularidade que hoje infelizmente não temos no Brasil. A bancada da Frente de Esquerda dos Trabalhadores e Unidade (FIT-U) com os deputados do PTS Myriam Bregman, Nicolas del Caño, Alejandro Vilca e Christian Castilla, e do PO Romina del Plá, foram a oposição combativa que ecoou as vozes das ruas dentro do parlamento. Os parlamentares da FIT desmascararam e denunciaram incansavelmente a oposição dialoguista, que contou inclusive com setores do peronismo e dos radicais (UCR) rifando os direitos dos trabalhadores. A bancada da FIT não só atuou defendendo que a crise seja paga pelos capitalistas como também se colocou de corpo presente na manifestação das ruas. Um verdadeiro exemplo de parlamentarismo revolucionário, que não se entrega ao caminho da conciliação de classes e da frente ampla como faz o PT e o PSOL no Brasil. Pelo contrário, o PTS está dando uma batalha central para massificar a mobilização “por baixo”, defendendo em cada local de trabalho, estudo e nas assembleias de bairro a construção de um plano de lutas que seja colocado em ação com uma frente única operária. É a serviço dessa batalha que estão os mandatos do PTS e da FIT: para fortalecer a luta de classes. E como afirmou Myriam Bregman, essa primeira derrota do governo precisa ser apenas o começo, pois é preciso avançar para derrotar o DNU e todo plano motosserra de Milei e seus cúmplices. Uma vitória da classe trabalhadora Argentina é também uma vitória pra classe trabalhadora internacionalmente.

Essa é a unidade “desde abajo” que pode vencer. E por isso nós do MRT afirmamos: a Argentina aponta o caminho! Contra o bolsonarismo que segue vivo em nosso país, representado em figuras asquerosas como Tarcísio de Freitas aqui em SP, mas também contra a carestia de vida, as privatizações, a precarização do trabalho, as reformas filhas do golpe que seguem intocadas pelo governo Lula-Alckmin e os ataques de conjunto aos povos indígenas e à classe trabalhadora que seguem sendo uma constante diante da crise, é preciso se organizar e lutar como fazem os trabalhadores e estudantes argentinos. E isso precisa ser feito com total independência de classe, sem nenhuma confiança em instituições como o STF, que se ora avançam pra cima de alguns setores do bolsonarismo, o fazem na mesma medida em que preservam e garantem a impunidade de outros setores da extrema direita, assim como todo legado de ataques e reformas que passou durante os últimos anos. Ou seja, para enfrentar a extrema direita até o final e dar uma saída mais de fundo para a situação de crise, é preciso confiar apenas nas nossas próprias forças. Aqui em São Paulo, por exemplo, esse é um caminho fundamental, pois Tarcísio e Ricardo Nunes vieram nos últimos anos avançando ofensivamente contra os nossos direitos, a exemplo da privatização da SABESP e tentativas de privatizar o Metrô e a CPTM. Contra esses planos privatistas, o que é preciso fazer? Abraçar antigos inimigos da nossa classe, como está fazendo o PSOL de Boulos com Marta Suplicy apoiadora do golpe institucional, ou preparar uma forte luta independente da nossa classe? Pra essa pergunta, a Argentina está mostrando a resposta.”




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